sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

ENTRE "A HORTA DO THOMÉ" E A VIKIPÉDIA


Há mais de cem anos que A HORTA DO THOMÉ , Livro para Creanças, de João da Motta Prego, com ilustrações de João Alves de Sá, colecção Bibliotheca dos Meus Filhos, Livraria Classica Editora, 1909, Lisboa, é de tempos a tempos consultado em nossa casa.


De modo algum é um livro para "creanças", embora uma das principais figuras seja o Thomé, um rapaz de doze anos, o filho mais velho de entre onze irmãos. A outra e a principal, é o nosso comum mestre, o "tio Salomão". Tal como o modesto hortelão-jardineiro destas linhas também cultivava uma pequena horta. Mas com que sabedoria! É essa sabedoria, nascida da experiência prática persistente e reflectida e de leituras especializadas, que o mestre Salomão quer partilhar com o seu discípulo Thomé, afinal, os seus improváveis leitores de hoje e de há cem anos. E não brincava em serviço. O seu objectivo era proporcionar conhecimentos bem testados por si, com vista a melhorar as inacreditáveis condições de vida da época e alcançar uma dinâmica de progresso no cultivo que permitisse produzir além da auto-subsistência e assegurar o futuro pela colocação no mercado dos excedentes agrícolas.

Dos anos 40 também guardo alguns exemplares, que consulto uma vez por outra, da "Gazeta das Aldeias" que o meu pai assinava. Esta revista, de muito mérito, fundada em 1896, com vasta colaboração dos melhores técnicos agrícolas de então,  teve ao que parece larga influência na melhoria das práticas agrícolas. Por isso nada teve que ver com fases da lua, provérbios e quejandos que alimentaram a resignação publicada em almanaques e folhetins de feira. Mas a sua escala ultrapassa em muito a dos cultores de pequenas hortas! Não deixa contudo de conter conhecimentos muito úteis difíceis de encontrar noutros textos. Voltaremos à Gazeta.

Hoje em dia há muitas publicações em papel que interessam no cultivo  das pequenas hortas e jardins, geralmente traduções, reportadas a realidades que nem sempre têm correspondência com as nossas. As edições de agora são muito coloridas, bem apresentadas e caras... Não nos surpreende que entre os seus usuários esteja aquele tipo de pessoas sonhadoras,  entre o nostálgico e o romântico, que gostariam de gostar de trabalhar a terra.

Há finalmente, a internet, com enciclopédicos conhecimentos, para todas as escalas de agricultura e gratuitos, ao alcance de qualquer um. Em Portugal parece que chegou tarde.  Os portugueses, mesmo aqueles que nasceram e cresceram em ambiente rural, como eu, habituaram-se a "comer da loja", geralmente importado! È mais barato. No entanto, parece-me temerário confiar que poderemos contar sempre e em qualquer circunstância com o abastecimento barato e atempado de produtos agrícolas importados. Não será este um aspecto particular de "economicismo": o economicismo  de massas? Até ver.

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