sábado, 26 de abril de 2014

MALVA (COMMON MALLOW, MAUVE)


A nova avenida cortou a Várzea. Após aterro, o pavimento ficou situado acima do plano médio dos solos da área de cultivo. Entre esta e os passeios, uma zona de protecção lateral compactada, formada por materiais degradados e saibro.  A separá-la dos terrenos agrícolas um talude da mesma qualidade.  Ao centro da estrada um corredor estreito separa as faixas de rodagem. Sem surpresa, mesmo a vegetação espontânea no solo de cultivo contrasta pela variedade, abundância e vigor com a das zonas de protecção. Aí o solo é naturalmente muito pobre e a água das chuvas escoa seguindo a inclinação do talude, demorando-se bem pouco pela superfície vidrada.


Mas foi lá que deparámos com esta muito discreta variedade de Malvaceae.  Discreta pela disposição rasteira das hastes que, ainda assim, parecem tentar mostrar as flores erguendo-as tão alto quanto possível. E que flores! 


Aqui e para comparação com a da primeira foto, uma malva comum de caule erecto. Note-se ainda o afastamento  das pétalas entre si.


Voltemos. As raízes são curtas. A partir e em torno do caule principal, brotam os caules que suportam folhas arredondadas, verde-escuras, mais curtas do que eles. 


Flores de 5 pétalas em cor rosa, com riscas em tom mais escuro. Inúmeros estames. Os frutos são os conhecidos "queijinhos" que as crianças do meu tempo ingeriam embora nem soubessem bem.

Fotos de ontem.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

GLADIOLUS ITALICUS (CALÇAS-de-CUCO)


 Gladíolo dos campos, muito comum nos solos argilo-calcários da região, onde nasce espontâneamente no início da primavera.  


Estas belas plantas são por vezes difíceis de transpor para jardim. Mas neste caso a plantinha inteira (cormo incluído) que a minha mulher recolheu nos solos da Várzea, conseguiu adaptar-se bem e desde há alguns anos que as suas simples mas esplêndidas flores anunciam a quadra da Páscoa. 


Pergunto-me se entre as possíveis razões do êxito não estará a particular natureza do solo em que foi colocada nas imediações do poço de rega. 


Sucedeu, há muitos anos, ter havido necessidade de expurgar o poço de folhas e lamas. Nessa altura era um poço aberto. À superfície o solo é arenoso. Mas, a partir dos 4 metros de profundidade surge uma argila branca-acinzentada. Esse solo argiloso resultante de algum aprofundamento, foi elevado do fundo em baldes com a ajuda do tradicional sarilho e depositado em volta, formando-se um pequeno relevo. Ainda hoje está bem definido apesar de o termos vindo a melhorar, acrescentando-lhe composto vegetal.


A viabilidade do gladíolo dos campos no jardim poderá dever-se, em parte, à natureza desta mancha de solo no qual, aparentemente, se sente em casa para nossa maior satisfação. 

Fotos da primeira quinzena de Abril, no jardim.

terça-feira, 22 de abril de 2014

DELOSPERMA (ICE PLANT)


As delospermas começaram a florir: no jardim, em vermelho brilhante as mais comuns  e simultâneamente,  no jardim fronteiro dos nossos primos A.M. mas aí em delicadíssimos tons de rosa e branco. Muito rústicas, de crescimento lento, tamanho modesto e de floração compacta, são um campo de estrelas. 


Ao centro, um cone de estames, estiletes rematando com os seus estigmas e estaminódios semelhantes a pétalas.


Folhas carnudas, cilíndricas, persistentes. Tal como as flores, uma vez secas as folhas deverão ser prontamente removidas. Nos meses frios devemos poupá-las às geadas. Nos meses de calor querem  boa exposição ao sol.

Fotos da tarde de domingo de Páscoa de 2014.





domingo, 20 de abril de 2014

NOSSA SENHORA DA BOA MORTE, Maria de Lourdes Belchior. Na PÁSCOA com WATSONIA branca.

Minha Nossa Senhora
quando a morte estiver para chegar
faça favor de se abeirar
de mim
no fim dos meus dias
na hora da partida desta vida
sede minha guarida


Minha Nossa Senhora
quando eu estiver para morrer
faça favor de aparecer
à minha beira
e na hora derradeira
sede minha guia
para a vida cimeira


E se por mal dos meus pecados
tiver de parar no lugar da purificação
por vossa intercessão mandai encurtar
a minha estada naquela morada


Depois, já purificada,
minha mão na vossa mão imaculada
levai-me à presença de Deus altíssimo
Minha mão... não pode ser
que estará a apodrecer
com o resto do corpo, mortal


De qualquer jeito, minha Nossa Senhora
resolvei a situação
sede minha advogada e por vossa intercessão
alcançai-me perto de vós o lugar da contemplação


Ouso de mais, minha Nossa Senhora?
pedir lugar perto de vós é demasiada ambição?
Fique na vossa mão do caso a solução: mas
longe de vós, não...

Maria de Lourdes Belchior (1925-1998), in Gramática do Mundo, IN-CM, Lx. 1985.

Fotos na Páscoa de 2014, no jardim: Watsonia (borbonica subsp. ardernei?), Palmas, Hastes de S. José)

sábado, 19 de abril de 2014

AEONIUM (EÓNIO, HOUSELEEK TREE, AEONIO)


São de algum modo inesperados estes tons pálidos de amarelo-dourado e verde e para mais em flores de suculentas  que embora não sejam tropicais, associamos a ambientes de forte luminosidade.  Mesmo no período de repouso querem luz solar directa. Já ouvi chamar-lhes "rosas verdes!


Tons pálidos, mas nada anémicos: a planta respira saúde!  


Pode acontecer que a floração do eónio represente o seu canto do cisne. À cautela convém colaborar na multiplicação da planta. Podem usar-se as folhas destacando-as cuidadosamente do caule. Implantadas em solo arenoso, colocadas à sombra ou à meia-sombra e tendo boas reservas, ao fim de algumas semanas virão a ganhar raízes. 


Mais expedito é usar o método de destacar inteira uma das rosetas laterais, mergulhar a base em pó de hormonas de enraizamento e colocar no solo humedecido.  O tempo mais propício será Março antes do início da rebentação. Na 3ª foto, uma roseta de folhas espatuladas em verde-brilhante.

Fotos de ontem na aldeia e no jardim da muito simpática vizinha D. Isaura.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

GRANDEZA de uma PEQUENA PLANTA COMUM em CONDIÇÕES INVULGARES



O acesso à casa faz-se entre canteiros bordejados por muretes. Na mais imperceptível fissura do pavimento lajeado, logo se insinua uma das incontáveis sementes que, praticamente invisíveis, peregrinam  por tudo quanto é sítio. Acontece haver uma ou outra que logra instalar-se e desenvolver-se no mais improvável desses sítios. 


Para cúmulo, nas andanças em volta dos canteiros relvados, vimos pisando inadvertidamente exemplares como o das  fotos, de resto, já antecipadamente condenados pelas nossas ideias do que seja o sujo e o limpo aplicado a jardins, pátios e acessos a casa... 


Enquanto perdura o orvalho da manhã, abstemo-nos  de entrar no relvado e realizamos outras tarefas, mais não sejam do que uma breve ronda avaliando o estado das coisas e as tarefas do dia.  


Foi numa dessas alturas que me apercebi da pequena asterácea em botão de folhas já bem pisadas e nascida  numa daquelas muito ínfimas rachas. 

O que me chamou a atenção foram exactamente as cores vivas em verde, amarelo e vermelho dos pequenos botões.  Voltei logo com a câmara fotográfica e registei as primeiras fotos com a luz do início da manhã. 


As fotos anterior e seguinte são da mesma plantinha tiradas no mesmo dia mas às 2 da tarde em sol pleno. Será talvez supérfluo acrescentar que a estas flores abertas correspondem exactamente as flores em botão das fotos mais acima.


Este fenómeno sempre possível, conhecido de todos, ainda nos toca pelo inesperado. Não! Não se trata de atribuir  um pensamento à maneira do homem que ao caso não compete. Abandonemo-nos apenas no deleite da beleza onde quer que ela surja. Fascinante!


Fotos de 15 deste mês, no jardim. Os pequenos arcos de círculo das 3 primeiras fotos são de uma moeda de 1 euro. 

terça-feira, 15 de abril de 2014

SILENE GALLICA L. (ERVA-das-CABACINHAS, FRENCH CATCHFLY, SILÈNE de FRANCE, CARMENTILLA)


Na parte não cultivada do quintal, as ervas continuam a crescer a olhos vistos. Em torno dos canteiros, olhando com atenção, é possível  descobrir uma ou outra variedade de herbácea que não tenha trazido ao portal.


De entre as cariofoliáceas já aqui tivemos a silene vulgaris.


Hoje, trazemos a muito discreta silene gallica de folhas estreitas, flores brancas e levemente rosadas, orientadas para um mesmo lado e dispostas perpendicularmente ao caule. 


Pedúnculo curto e cálice em tubo ornado com 10 nervuras longitudinais e longos pêlos brancos. Corola de 5 pétalas inteiras ou com ligeira reentrância e 10 estames também com pêlos. Ao centro uma pequena e graciosa coroa branca.


No centro da foto, em plano superior, pode ver-se um botão floral na axila das folhas (brácteas).

Fotos de 12 de Abril de 2014, no quintal.

domingo, 13 de abril de 2014

SALVIA OFFICINALIS (SALVA-das-BOTICAS, SAGE, SAUGE OFFICINALE)


Parte aérea florida da planta. 


Lábio inferior, verdadeira pista de aterragem e descolagem para abelhas e zangões. Lábio superior, capa de cobertura e protecção  de estames e gineceu.


O cálice é composto de 5 sépalas unidas formando uma taça em cor acastanhada. A corola, envolvida na base pelo cálice, também  é formada por 5 pétalas reunidas em tubo muito aberto com lábio superior e lábio inferior. No tubo da corola inserem-se 4 estames, sendo o par anterior bastante mais desenvolvido que o posterior, este aliás muito rudimentar e 2 carpelos com um corte vertical no cimo. Naqueles estames, o conectivo - estrutura que liga o filete à antera - desce e baloiça quando o polinizador avança no tubo estreitando a entrada e provoca o encosto das anteras no seu dorso. Desse modo favorece a polinização cruzada. Na foto podem ver-se um estilete - arco maior, fendido na ponta, saindo encostado ao lábio superior e apontando para o lábio inferior e os dois estames anteriores .  


Natural da região do mediterrâneo oriental, a salva pertence à família das Lamiáceas (Labiadas).  Ao tocarmos folhas e caule ficamos com as mãos perfumadas. Não surpreende que seja muito procurada na produção de óleos essenciais.

Fotos de ontem no quintal.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

ALLIUM SHOENOPRESUM (CEBOLINHO, CHIVE, CIBOULETTE), em flor


O cebolinho tem um lugar certo nas cozinhas mais sofisticadas e a flor pode ser usada na decoração de magníficas jarras como - modéstia à parte - as concebidas pela minha mulher.


Temos no quintal um número excessivo de exemplares, considerando as nossas necessidades. Apenas tive que os semear uma vez: eles encarregam-se de se auto-reproduzir.   Basta deixar livre de concorrência o solo em volta  e, claro, não pisar as inúmeras plantinhas. 


Curiosamente suportam bem o frio e não são nada exigentes em cuidados.


Quem quiser que as folhas continuem tenras e utilizáveis na cozinha, tem de cortar a tempo as flores evitando que criem sementes. Para garantir a multiplicação basta deixar que uma ou duas flores  atinjam a maturidade. A maior parte das sementes cairá no chão e muitas conservar-se-ão no receptáculo a tempo de as recolher para uma folha de jornal.


Se está tentado a experimentar, comece por adquirir um pacotinho de sementes - coisa acessível no preço ou então alguns bulbilhos que se obtêm por divisão dos tufos abaixo do solo. Esta divisão deverá efectuar-se de 2 em 2 ou de 3 em 3 anos para rejuvenescer os tufos. Pelos resultados do processo da sementeira esperará muito mais do que pela plantação dos pequenos bolbos. Estes colocam-se no solo em Março-Abril. Na sementeira cobrir muito ligeiramente as sementinhas. 


Mesmo que não utilize as folhas é conveniente cortá-las em raso para favorecer o crescimento. 

Se não dispõe de quintal, ainda assim poderá cultivar o cebolinho em vaso. Então, boas omeletes, sopas e saladas com cebolinho da sua criação!

Fotos de 9 de Abril de 2014, no quintal.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

IXIA (AMÊNDOAS-de-PÁSCOA, ÍXIA, AFRICAN CORN LILY, IXIA)


Na aldeia chamamos-lhes "Amêndoas-de-Páscoa" e aqui todos entendemos que sejam "aquelas plantas" com folhagem semelhante à dos íris e que florescem por fins de Março ou em Abril e dão uns botões avermelhados que sugerem amêndoas...  


Mas íxia será talvez a denominação mais adequada, até pelo bom aportuguesamento da palavra latina ixia, processo idêntico ao adoptado pelos descomplexados falantes de língua francesa ou castelhana.


As íxias são uma excelente flor de corte com as inflorescências terminais racemosas em espigão de 5 a 12 flores. As do nosso jardim estão em local abrigado acautelando-se assim a susceptibilidade de serem danificadas pelas geadas. E de tanto abrigadas, nos temos vindo a esquecer de lhes favorecer a multiplicação separando os pequenos bolbos (cormos) após o emurchecimento das folhas. 


Corolas de 6 brilhantes sépalas unidas na base e formando um tubo fino, 3 estames no centro da flor, anteras bem distintas, estiletes divididos em três partes, ovário ínfero.

Fotos de Abril de 2014, no jardim.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

OENOTHERA ROSEA (ONAGRA-ROSA, ROSE EVENING-PRIMEROSE, ONAGRE ROSÉE, AGUA DE AZAHAR)


A terminar a caminhada a pé e já à vista de casa, a minha mulher descobre na linha da intercepção de um muro de jardim com o plano da calçada do passeio que ladeia a rua, uma muito discreta herbácea com uma flor solitária. A corola é de 4 pétalas inteiras em cor de rosa, com veias de tom mais escuro. No interior 8 estames bem desenvolvidos. 


Ovário inserido no receptáculo e abaixo do plano de inserção de sépalas e pétalas (ovário ínfero). Tubo do hipanto muito prolongado, separando o ovário das restantes verticilos florais. Cálice com as 4 sépalas voltadas para baixo (reflexas), parcialmente unidas e bifurcadas nas pontas.


Planta (Família onagraceae) com cerca de 45 cm de altura e flor inserida na axila da folha. Caules avermelhados ou verdes.


Posteriormente, venho descobrindo com surpresa vários exemplares de onagra ao longo da rua junto aos passeios. Parece que estes últimos meses de chuva poderão ter alguma espécie de relação com esta singular presença em locais tão improváveis.

Fotos da passada sexta-feira, na aldeia.