terça-feira, 31 de dezembro de 2013

CICADA (CIGARRA)???, infância longa, curta vida de adulta.


Ao nível dos olhos, um insecto no tronco da palmeira ou apenas a exúvia pupal (exoesqueleto) que sobrou da muda mas que mantém perfeitamente a forma da ninfa. Se viva, teria tórax comportando três pares de vigorosas patas, particularmente as anteriores. Pela forma, dir-se-ia que a função poderá estar relacionada não só com a necessidade de locomoção como com a de escavar galerias no solo.  


O abdómen de cor clara, cilíndrico, estreitando na parte final e é atravessado por diversos anéis em tom mais escuro.  Da cabeça sai um par de antenas muito curtas. As asas são curtas e pouco desenvolvidas.


Tratar-se-à de um insecto à beira da idade adulta (metamorfose incompleta: ovo, ninfa e insecto adulto) ou apenas da sua rija cutícula juvenil? Na foto antecedente, muito ampliada, pode ver-se o que parece ser a zona de  rotura no dorso. Pertenceu a uma cigarra, (Tibicen?) modalidade de homóptero? Nesse caso, a ninfa terá emergido do solo onde poderá ter vivido muitos anos (até 17!) à custa das raízes das árvores. Continuará agora como insecto adulto voando por entre as copas das árvores por mais alguns dias ou curtas semanas, usando a cigarra macho o seu inseparável "violino" para atrair cigarras fêmeas. Uma festa!

Fotos-gentileza J.M., primavera de 2013, sudeste asiático.

domingo, 29 de dezembro de 2013

FICUS RELIGIOSA ( ÁRVORE-de-BUDA, FIGUEIRA-dos-PAGODES, BODHI TREE)


A ficus religiosa, segundo alguns árvore da sabedoria, árvore do mundo, é cultivada junto dos templos budistas e na Índia simboliza o despertar e a iluminação. É especialmente sagrada para os hindus que a associam à fertilidade da mulher. Da informação posta defronte desta árvore, consta ter sido plantada em 24 de março de 1959 pelo Presidente da Índia Rajendra Prasad e pelo Presidente do Vietnam Ho Chi Minh. Não foi escolhida ao acaso. O nome do antigo líder político do Vietnam significa "o que ilumina". Ora, terá sido debaixo dela que o Buda (Siddhatha Gotama) atingiu a iluminação.


A  árvore, de sombra agradável, alcança facilmente os 25 m de altura e é muito decorativa. O revestimento do tronco é acinzentado . As folhas são simples, de textura coreácea, verde-escuras mas as novas são cor-de-rosa.  A margem das folhas é ondulada e a extremidade pontiaguda (acuminada). As flores surgem em fevereiro e frutifica em maio-junho. Folhas, frutos, casca e mesmo o látex têm aplicações medicinais. 


Fotos gentileza JM, Vietnam, 2013.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

OS TRABALHOS e OS DIAS


E, depois das festas - trabalho como prazer -,


o imperativo regresso aos trabalhos.


Ou, o trabalho como critério de justiça, muitos séculos depois de Hesíodo. 

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

NACI - NATAL -1966 poesia de RUY CINATTI




Senhor, tu nasceste neste dia
e eu aqui estou,
nascido no mesmo dia.
Apetece-me brincar com as palhinhas
Pousar o dedo no boi, digo, no beiço,
no focinho do boi, senti-lo húmido
da língua que o lambe.
Depois levá-lo à boca para saber
a que sabe.
Lembrando o que há tanto tempo sucedeu,
quando um boi, um dia, 
me lambeu a face,
de relance a boca.


Sal, apenas sal, queríamos nós.
O boi e eu.
Cloreto de sódio, símbolo
como aprendi no liceu.


Senhor, estamos tão sós
que até um boi nos valia.


Senhor, tu nasceste neste dia
e eu aqui estou
à espera me dês o sal
da tua boca.


O boi lambeu-me.


Obrigado, Senhor! 

Ruy Cinatti, Obra Poética, INCM, Lx. 1992, p.208.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

HEBE (VERÓNICA ARBUSTIVA), detalhes da flor.


Entrando o inverno e as flores da verónica estão de volta. 


Aliás, este arbusto está florido praticamente todo o ano.  


Que mais apreciar? Cor e forma tubular das flores,  disposição dos longos estames entre as quatro pétalas, forma e textura coreácea das folhas?

Fotos de dezembro de 2012, em Coimbra.

sábado, 21 de dezembro de 2013

JARDINANDO NO RIO: APANHA e CAPTURA de MOLUSCOS BIVALVES


Maio. O calor é tanto que, uma vez terminada a captura, rapidamente as apanhadoras ficarão enxutas. Início da tarde (às vezes também à noitinha) as nuvens acumulam-se, escurecem, quase se faz  noite e de súbito cai uma chuva torrencial por trinta minutos a duas horas contínuas. Um dilúvio! O leito do rio sobe rapidamente, voam folhas de zinco da cobertura dos telhados. É tempo de pausa no trabalho.  


Contemplação? Ou, apenas, aguardando resultados? Suposta é a lavagem, acondicionamento e rápido transporte dos bivalves até ao local de depuração, de preferência evitando a exposição ao sol, calor e imersão em água...


Ganhar magramente o dia-a-dia, plantadas no rio, ora de pé ora de joelhos, semi-enterradas no lodo, não é tarefa menor. Ainda assim, pode dar-se conta do sorriso da mulher em primeiro plano. Sinal de captura abundante ou simples expressão de acolhimento? 


Na margem, as crianças aprendem brincando, imitando os pais. Ali mesmo, há  quem coma alimentos crus.

Fotos gentileza J.M., 2013, sudeste asiático.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

HIPPEASTRUM RETICULATUM var. STRIATIFOLIUM (AMARÍLIS), uma flor diferente.


Ninguém ficará indiferente à comum flor da amarílis. Espectacular sim, o que desperta a curiosidade. Porém, a sua força é igualmente a sua fraqueza. Tomando a planta no seu todo, a flor aparece algo desproporcionada, excessiva. Mas na variedade hoje apresentada, a subtileza do reticulado em rosa sob fundo branco das tépalas, tempera aquele efeito devolvendo-lhe equilíbrio.


Lamentavelmente, o exemplar das fotos não parece bem cuidado. Ainda assim, note-se o pormenor não despiciendo do traço médio branco nas folhas largas e prostadas, o que conjuga bem com o movimento reticulado das tépalas.   

Se conseguir um exemplar, é bom ter presente a sensibilidade da planta às geadas. Assim, deverão ser cultivadas em vaso a recolher em abrigo antes da estação do frio.

Fotos gentileza J.M., maio de 2013, no sudeste asiático. Em maio passado trouxe aqui outra variedade de amarilis.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

TÉRMITAS


Com o frio e a aproximação das chuvas, continuamos abrindo rolos e cepos de pinho tombados pelo temporal de janeiro e que vem estando em contacto com as ervas. Nenhuma surpresa quando deparamos com insectos em madeira morta ou em processo de morte. Alguns como os das fotos, não só encontram abrigo no interior da madeira mas simultâneamente dela se alimentam. 


Corpo em três segmentos: cabeça, tórax e abdómen. Seis pernas, um par de antenas. Na foto seguinte são visíveis as mandíbulas na extremidade da cabeça em tons castanho-escuros, próprias para cortar e mastigar alimentos sólidos. São também visíveis as antenas, semelhantes na estrutura a um colar. 


São insectos sociais, com tarefas diferenciadas. Os que aparecem na madeira são operários de notável voracidade.   Outros, mais sóbrios na alimentação, vivem no subsolo. 


Uns e outros são avessos à luz e uma vez destapados tratam de se pôr ao fresco. Assusta um pouco pensar que estes insectos possam trocar a lenha pela madeira da estrutura da casa ou pelos móveis mas, tanto quanto julgo saber, essa possibilidade é muito remota. Demais, posso ainda contar com velhos amigos: sempre que me afastava um pouco do local de corte logo surgiam pássaros que depois se afastavam de bico cheio. 

Fotos da semana passada, no quintal.



domingo, 15 de dezembro de 2013

CLEMATIS VITALBA (CLEMATIDE BRANCA, VIDE-BRANCA, CLEMATITE), flor em dezembro.



Em dezembro, uma clematite de cultivo em plena floração! Encaminhada por uma rede oculta na vegetação com pouco mais de cinquenta centímetros de altura, cresce viçosa à sombra dos edifícios alinhados a sul. A menos de cinquenta metros de distância vimos um outro exemplar de jardim, ramos secos na quase totalidade, pendurado na rede de vedação com cerca de dois metros de altura, exposta ao sol directo. Aparentemente, a primeira é muito melhor cuidada: pé fresco e algum sol na manhã e tarde.


A surpresa resulta do facto da floração normal desta planta em natureza, acontecer entre maio e setembro.  As flores de grandes pedúnculos (realmente são inflorescências em panícula (i.e. em cacho, mais largas na base do que no vértice) parecendo pequenas estrelas sob fundo verde, são brancas com um toque amarelado no exterior e o que à primeira vista parecem ser pétalas são, de facto, sépalas petalóides. Verdadeiramente, a clematite é  desprovida de pétalas. Na primeira foto, em cima do lado direito, podemos ver essas sépalas livres, brancas e mais largas, na base da flor, em número de quatro, formando uma cruz.   Destacam-se pelo tamanho e pelo belo efeito, os muitos estames que excedem a corola. 


Esta trepadeira ramificada da família ranunculaceae é uma verdadeira liana. Os caules são longos e lenhosos. Mostram-se canelados à superfície. A folha é caduca.


Os frutos que aqui trouxe em setembro passado, são aquénios. Estes novelos de belo efeito são normais no inverno.

Fotos deste  dezembro com excepção da última que é de setembro, todas de 2013.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

ATRIBULAÇÕES DE UMA GATINHA



Sempre mais alto?


                                                                 Dois atrevidos paspalhões em baixo e, 


                                                                 dois em cima, mas foram três, 


                                                                 que a simples aproximação humana afasta.


                                                                  A inocente gatinha avalia a situação e 


                                                                  inicia cautelosamente a descida. 


                                                           Já no solo e de muito perto, um olhar tranquilo de despedida para o fotógrafo.         

Fotos de 9 de dezembro de 2013.                                          

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

HYLOTRUPES BAJULUS (CAPRICÓRNIO DOMÉSTICO, CARUNCHO-GRANDE-da-MADEIRA)



A noite de Natal prepara-se com antecedência. Tirando partido destes inesperados dias de "sol de inverno", escolhi alguns rolos de madeira de pinho e eucalipto para rachar e empilhar, garantindo assim um suplemento de energia para as noites que se avizinham e em particular para a noite maior da Consoada para a qual se reserva sempre a melhor lenha possível. 


Abrindo esta madeira derrubada pelo temporal de janeiro passado, evidenciam-se fragilidades antigas como as que resultam de ambientes carregados de humidade após chuvas seguidas de secagens pela acção do vento e dos raios solares que conjugadamente provocam alterações químicas ao nível dos compostos da madeira. Podem então surgir rachas e ataques de cogumelos e insectos xilófagos. 


Não surpreendem então as inúmeras galerias, habitadas umas, outras já vagas, autêntico labirinto desenhado nas entranhas da madeira ou entre a casca e o borne. As larvas de caruncho da madeira são, entre os inquilinos dos troncos de pinho, dos mais frequentes e, já agora dos mais vorazes e que menos respeitam a propriedade do senhorio, pois alimentam-se exclusivamente de madeira. O corpo cor marfim com pequenas pernas, é segmentado, mais largo na região da cabeça onde se inserem o aparelho bocal e dois ocelos (pequenos olhos) de cor acastanha-escura, um de cada lado. 


Demoram três e mais anos a atingir a maturidade, comendo sempre. Já o insecto adulto não dura mais do que 15 dias. A larva acaba escavando um túnel de 6 a 10    milímetros de diâmetro até próximo da superfície e aí prepara a câmara para conter a pupa. Desta surgirá o insecto que logrará alcançar o exterior. Nas duas semanas de vida o insecto fêmea deposita os ovos nas rachas e fendas da madeira que eclodirão entre duas a três semanas iniciando-se a longa mastigação de novas larvas. 


As fotos, muito ampliadas, (a larva mede realmente cerca de 3 cm de comprimento) são de ontem, no quintal e foram pretexto para algumas necessárias pausas.

domingo, 8 de dezembro de 2013

DE ERVAS VOS MANTENDES ... e eu das lembranças do meu coração.



                                                                                Verdes são os campos,
                                                                                De cor de limão;
                                                                                Assim são os olhos
                                                                                Do meu coração.

                                                                                Campo, que te estendes
                                                                                Com verdura bela,
                                                                                Ovelhas, que nelas
                                                                                Vosso pasto tendes,          
                                                                                De ervas vos mantendes
                                                                                Que traz o Verão,                    
                                                                                E eu das lembranças
                                                                                Do meu coração.


                                                                                Gados que pasceis
                                                                                Com contentamento,
                                                                                Vosso mantimento,
                                                                                Não no entendereis;
                                                                                Isso que comeis,
                                                                                Não são ervas, não:
                                                                                São graças dos olhos,
                                                                                Do meu coração.

Luís de Camões


 Fotos: Benidorme, Espanha. 
       

                                                                               

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

SOLIDAGO (VARA-de-OURO)


No Canto do Murtal, fui surpreendido por esta única, esplendorosa, solidago (virga aurea?), uma herbácea vivaz muito decorativa. As inflorescências em amarelo vivo apresentam um eixo principal maior que os ramos laterais e que termina por uma gema que produz novas flores de modo que simultâneamente a planta tem botões, flores e até frutos (aquénios) em maturação (ver o ramo acastanhado da foto).  A estrutura das inflorescências da vara-de-ouro é típica das compostas.  


Ficou prometido um rebento com destino ao nosso jardim. 

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

ALNUS (AMIEIRO), os frutos.


Uma árvore muito comum, diria familiar, da paisagem natural envolvente da aldeia, recortada por rio, valas e regueiras. Pertence à família das betulaceae e pode viver cem anos. Seguindo o curso das linhas de água cujas margens ajuda a estabilizar, alcança doze a quinze metros de altura. Tem a notável capacidade de fixar o azoto o que lhe possibilita tirar partido de solos pobres e húmidos onde outras árvores não são viáveis. As folhas agitam-se à mais leve brisa, produzindo um som muito agradável que acresce o prazer da sombra magnífica. 


Os frutos do amieiro apresentam formas muito curiosas semelhantes a cones alongados com cerca de um a dois centímetros e persistem na árvore mesmo após a queda das folhas. 


Nesta altura do ano oferecem infrutescências num misto de frutos ainda verdes e frutos já lenhificados de cor castanha-escura em processo de abertura para possibilitar a libertação das sementes. Estas são aquénios de forma ovada, cor vermelha-acastanhada e asas estreitas e curtas.  Mas a água, mais do que o vento, parece ter um papel decisivo na distribuição das sementes.


As inflorescências (donde provêm as infrutescências), agrupam flores em estruturas pendentes, longas e cilíndricas que aparecem antes das folhas em finais de fevereiro ou nos primeiros dias de março.

Fotos de finais de novembro de 2013.

sábado, 30 de novembro de 2013

SOB O SIGNO DE AMADEO



Mãe! Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei.
Traz tinta encarnada para contar estas coisas!
Tinta cor de sangue verdadeiro, encarnado!
Eu ainda não fiz viagens.
Eu vou viajar.
Tenho sede! Eu prometo saber viajar.
Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um.
Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa.
Depois venho sentar-me a teu lado.
Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei tão parecidas com as que não viajei,                                                                                                                                             escritas ambas
com as mesmas palavras.
Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado!
Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa.
Eu também quero ter um feitio, um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa. Como a                                                                                                                                                           mesa.
Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!


A poesia é de Almada Negreiros e o quadro de Amadeo de Sousa-Cardoso exposto na Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, até 14 de janeiro de 2014 Sob o Signo de Amadeo Um Século de Arte.


terça-feira, 26 de novembro de 2013

FASCICULARIA BICOLOR (FASCICULÁRIA, CRIMSON BROMELIAD)


No jardim envolvente do Hotel-Palace do Buçaco e no talude que o delimita a nascente, crescem à sombra das árvores estes belíssimos exemplares ainda em flor de fasciculária aqui, fotografados nos primeiros dias de novembro. Situando-se num plano superior e inacessível com muita pena não pude fotografar a flor de muito perto.


Variedade de bromeliáceas, é originária do Chile e Argentina. Hoje em dia tornaram-se típicas de jardins mediterrânicos com ambientes secos e pedregosos. Trata-se afinal duma suculenta. 
As folhas são duras e não devem ser tocadas sem luvas dada a forma finamente serrada do limbo com verdadeiros picos que podem ferir os incautos. À superfície são verde-acinzentadas. No interior da roseta as folhas mais jovens são coloridas a vermelho brilhante e de entre elas sobressai a flor com pétalas azuladas rodeando as anteras em amarelo-vivo. Surgem no fim do verão e inícios do outono.


No Buçaco as fasciculárias estão perfeitamente adaptadas ao muito particular meio-ambiente e expandem-se rapidamente ocupando o espaço à volta. Se quisermos cultivá-las nos nossos jardins haverá que ter em conta a susceptibilidade às geadas. Daí ser mais seguro o cultivo em potes ou grandes vasos que possam ser recolhidos na estação fria ou, no mínimo, cobertos com material adequado.