sábado, 30 de novembro de 2013

SOB O SIGNO DE AMADEO



Mãe! Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei.
Traz tinta encarnada para contar estas coisas!
Tinta cor de sangue verdadeiro, encarnado!
Eu ainda não fiz viagens.
Eu vou viajar.
Tenho sede! Eu prometo saber viajar.
Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um.
Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa.
Depois venho sentar-me a teu lado.
Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei tão parecidas com as que não viajei,                                                                                                                                             escritas ambas
com as mesmas palavras.
Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado!
Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa.
Eu também quero ter um feitio, um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa. Como a                                                                                                                                                           mesa.
Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!


A poesia é de Almada Negreiros e o quadro de Amadeo de Sousa-Cardoso exposto na Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, até 14 de janeiro de 2014 Sob o Signo de Amadeo Um Século de Arte.


terça-feira, 26 de novembro de 2013

FASCICULARIA BICOLOR (FASCICULÁRIA, CRIMSON BROMELIAD)


No jardim envolvente do Hotel-Palace do Buçaco e no talude que o delimita a nascente, crescem à sombra das árvores estes belíssimos exemplares ainda em flor de fasciculária aqui, fotografados nos primeiros dias de novembro. Situando-se num plano superior e inacessível com muita pena não pude fotografar a flor de muito perto.


Variedade de bromeliáceas, é originária do Chile e Argentina. Hoje em dia tornaram-se típicas de jardins mediterrânicos com ambientes secos e pedregosos. Trata-se afinal duma suculenta. 
As folhas são duras e não devem ser tocadas sem luvas dada a forma finamente serrada do limbo com verdadeiros picos que podem ferir os incautos. À superfície são verde-acinzentadas. No interior da roseta as folhas mais jovens são coloridas a vermelho brilhante e de entre elas sobressai a flor com pétalas azuladas rodeando as anteras em amarelo-vivo. Surgem no fim do verão e inícios do outono.


No Buçaco as fasciculárias estão perfeitamente adaptadas ao muito particular meio-ambiente e expandem-se rapidamente ocupando o espaço à volta. Se quisermos cultivá-las nos nossos jardins haverá que ter em conta a susceptibilidade às geadas. Daí ser mais seguro o cultivo em potes ou grandes vasos que possam ser recolhidos na estação fria ou, no mínimo, cobertos com material adequado.

domingo, 24 de novembro de 2013

THEVETIA PERUVIANA (CHAPÉU-de-NAPOLEÃO)


Na tarde muito quente de setembro, iniciamos uma pausa sentando-nos no banco de jardim à sombra das frondosas árvores e arbustos. Reparo nas muitas flores ainda vistosas que cobrem o chão. Os olhos dirigem-se logo para cima, para as flores frescas e descobrem os muito exóticos frutos verdes. É uma bela planta arbustiva ou pequena árvore da família apocynaceae, originária do Brasil, muito decorativa. Voltaríamos para as ver melhor. Sucedem-se as fotos para posterior identificação.



Flores amarelas de cinco pétalas muito vistosas, perfumadas, tubulares mais largas no cimo.


Os frutos são drupas achatadas, triangulares (daí a associação com o chapéu do Napoleão) contendo as sementes.


A planta, toda ela é, porém, demasiado tóxica para poder ser eleita sem risco para jardins frequentados por crianças ou animais.Os frutos atraem a curiosidade das crianças que as podem tomar por castanhas (quando maduras ficam de cor roxa ou castanha). Se ingeridas provocam fortes intoxicações. No entanto são muito eficazes no controlo do mosquito do dengue.


As folhas são  simples,  brilhantes, alternas, permanentes, de nervura central muito acentuada. As geadas matam as folhas e ramos mas na primavera recupera bem com novos rebentos. Reage igualmente bem a podas. O tronco é revestido por uma casca acinzentada e a seiva é leitosa. Aprecia sol pleno ou convive bem com a meia-sombra.

Fotos de setembro de 2013, na região da Andaluzia.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

RUSSELIA EQUISETIFORMIS (FLOR-de-CORAL, RUSSÉLIA)


Da família plantaginaceae, natural do México, perene e de ramagem pendente, a flor-de-coral é óptima para decorar muros ou taludes.


As pequenas flores tubulosas e avermelhadas, sobressaem dos inúmeros ramos herbáceos, de discretas folhas, delgadas e compridas  (filiformes).


Está em flor desde os finais da primavera até ao outono. Sendo muito sensível ao frio, é conveniente ser cultivada em potes suficientemente largos (não esquecer as aberturas para escoamento da água) que possam ser deslocados para o interior durante os meses de inverno ou logo que as temperaturas baixem dos dez graus centígrados. 


Também é muito decorativa quando cultivada no interior da casa, pendente de cestos, podendo passar o ano inteiro  em ambiente temperado, bem iluminado e arejado.

Fotos de setembro de 2013, em jardim particular do sul de Espanha onde não carecem de ser mudadas no inverno.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O OUTRO BUÇACO, para além dos fetos arbóreos.


Com as primeiras chuvas de outono e num ambiente conservado húmido potenciado pelos nevoeiros, os fetos, musgos e líquenes, estão agora nas suas sete quintas formando um revestimento natural lindíssimo. Como eles, há muitas outras plantas remoçadas que merecem a atenção do visitante. 


Umbigos-de-vénus  (umbilicus rupestris) e sedos (sedum reflexum?), ambas da família das crassuláceas, são conhecidas pela resistência a ambientes secos.  As folhas são carnudas, modo normal de armazenamento de água, sendo as primeiras de forma arredondada com uma covinha ao centro que lembra um umbigo e as dos sedos são alternas, não pecioladas, quase cilíndricas e de cor verde azulado a acinzentado.  


As fotos são de plantas espontâneas encontradas no início de novembro de 2013, junto à Cruz Alta, Buçaco, cerca dos 540 metros de altitude.  São de crescimento lento e frágeis. Não devem ser retiradas do seu meio-ambiente por mais nobre que pareça a sua utilização em decorações de Natal, pois acabarão sempre ingloriamente no lixo. 

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

MANTIS RELIGIOSA (LOUVA-a-DEUS)


O ano vem sendo muito favorável ao louva-a-deus que só come presas vivas, pela abundância de gafanhotos e larvas diversas. No entanto, os primeiros frios do final de outono parecem afectar já a sua actividade.  O grande predador poderá não sobreviver  ás fortes geadas que também farão igual razia nos demais insectos que são as suas habituais presas. Na foto, muito mais atento do que parece, um exemplar de cor castanha expõe-se preguiçosamente aos raios de sol de um prolongado verão-de-são-martinho.


Podem ver-se as longas asas sobrepostas. No plano inferior, o abdómen e parte dos dois pés posteriores usados na deslocação. Nas fotos de baixo as patas anteriores modificadas para agarrar as presas. Na última são visíveis uma espécie de serrilhas  e espinhos colocados no fémur e na tíbia. 


Na foto, um desmesurado protórax e a cabeça com o par de longas antenas. Pescoço flexível. De um lado e outro da cabeça os olhos compostos e entre estes os ocelos. Na foto abaixo são visíveis as mandíbulas extensíveis.


Cabeça triangular orientável a 180º, permite-lhe uma visão de quase 360º. Olhos destacados e muito afastados. Entre os olhos, três ocelos podem captar as vibrações produzidas no ar pelo voo dos insectos. Dispõem ainda de um ouvido no tórax.


Religiosa só no nome, a fêmea tem o péssimo hábito  de devorar o macho durante a cópula. 
Os ovos postos no outono colados uns aos outros formam uma ooteca a eclodir na primavera. A ooteca acima, também fotografada no jardim, será de louva-a-deus ou apenas muito semelhante?

Fotos de ontem no jardim. 

sábado, 16 de novembro de 2013

INSECTA (INSECTOS), besouros no jardim


Insectos muito comuns aqui pela horta e jardim, alimentam-se de folhas. Diferentemente do escaravelho da batateira (Leptinotarsa decemlineata), bem conhecido em juízo, a identificação completa de insectos como o da foto não é nada fácil a um leigo. Daí que tudo quanto possa deixar aqui na tentativa de conhecer mais sobre bichezas do quintal e jardim, deva ser lido sob reserva. Apelo à generosidade dos conhecedores.


Nas fotos, trata-se indubitavelmente de um insecto: invertebrado, cabeça, tórax e abdómen bem distintos protegidos por exoesqueleto rígido, três pares de patas articuladas, duas antenas.   


Ressalta a forma ovalada do corpo e o brilho da  cor castanha avermelhada do exoesqueleto, com inúmeros pontinhos espalhados. Patas, antenas e cabeça em tons mais âmbar escuro. Vêem-se as asas anteriores duras (élitros) que se encostam na linha média do dorso, protegendo as posteriores mais finas situadas mais abaixo mas encobertas, usadas no voo. Antenas inseridas nos lados da cabeça, mais curtas que o restante corpo.


Curiosa a disposição da parte inferior articulada do pé apresenta quatro segmentos, o último com um entalhe em v.

Coleóptero (família chrysomelidae) ?  Crisolina?

Fotos de 11 de novembro de 2013, no quintal.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

NERINE BOWDENII, (NERINA), evocação das NEREIDAS



Já na água erguendo vão, com grande pressa,
Com as argênteas caudas, branca escuma;


Cloto co peito corta e atravessa
Com mais furor o mar do que costuma.


Salta Nise, Nerine se arremessa,
Por cima da água crespa, em força suma.


Abrem caminho as ondas encurvadas,
Do temor das Nereidas apressadas.  (Os Lusíadas, Luís de Camões, Canto II, 20.)


Flor bulbosa muito delicada e elegante, uma preciosidade actualmente em flor no jardim, é proveniente da África do Sul. Sensível ao frio, pede resguardo durante os meses que se avizinham. Multiplicação por divisão dos bolbos a plantar na primavera. Se se optar pelo cultivo no interior, escolher um sítio bem iluminado (não desdenha a exposição directa aos raios solares).

Fotos de novembro de 2012, no jardim do Casal Maia.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

FREIXIAL, após as primeiras chuvas de outono. Apontamentos.


Há um mês o leito de qualquer das regueiras apresentava-se completamente enxuto


e as árvores ainda frondosas coavam a luz do sol e lançavam sombra nos solos endurecidos.


Na vala não corria a água do Nascente. A meio das vindimas, porém, o tempo começou a mudar. Com calendários rígidos antecipadamente fixados pelas empresas compradoras de uvas, crescia a angústia  entre os viticultores. Até um certo limite a chuva favorece a colheita: os cachos aumentam de volume e de peso. Ultrapassado, e efectivando-se o risco de quebra da fina película dos bagos, pode seguir-se o apodrecimento. Adeus sanidade. 
Mas, ao menos desta vez, o desfecho foi feliz.


A alternância no ano entre seca e presença da água são arcos da mesma circunferência temporal e ambiental, só aparentemente em oposição e tão naturais um como o outro.  O arco da seca abrange, mesmo que por vezes já em nítida transição de fase, o ápice frenético e derradeiro das colheitas. Os frios, as noites longas, os dias nublados e a chuva trazem repouso que dele carecem adegas, celeiros, solos. E pessoas! Nos anos de boas colheitas e de melhor saúde, arcas cheias e tonéis atestados, haveria distensão maior que quando nos deixávamos embalar ouvindo a chuva caída dos beirais  e repercutida sobre um pote velho? 

Fotos da passada semana.    

sábado, 9 de novembro de 2013

ANTIRRHINUM (BOCA-de-LOBO), plantas em velhos muros


Coimbra, freguesia de Santa Clara, já bem perto do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova. Largo da Esperança e, ao centro, a Igreja de Nossa Senhora da Esperança em estilo barroco do início de setecentos. Não, não é hoje possível visitá-la. Junto à cruz de pedra lançamos ainda um olhar sobre a  margem direita do rio Mondego. Partimos então, descendo por um dos dois lanços convergentes de escadaria de pedra na direcção da Calçada de Santa Isabel. Iremos seguir pelo passeio largo revestido de placas de pedra rija e esquadrada.


 Olhando do exterior os velhíssimos muros de resguardo da escadaria em pedra irregular, não nos espanta encontrar várias fendas. Surpreendente é a instalação de magníficas boca-de-lobo floridas. Como é que chegaram até aqui?


Entre o passeio e a base do muro descobrimos novas bocas floridas.  Possivelmente provenientes de sementes caídas daquelas.


Acodem-me reminiscências de infância de quando as bocas-de-lobo eram frequentes em jardins da aldeia. Afinal é uma planta de fácil cultivo, nas mais variadas cores, perfumada a antirrhinum majus, e é até engraçada para as crianças quando se manipulam as bocas aveludadas, forçando-as a abrir e a fechar....


A corola é de forma tubular. Nela se fundem as pétalas com a forma de "lábios" e que permanecem fechadas devido  a uma protuberância arredondada (palato) a meio do lábio inferior, em tonalidades amareladas. Dentro da flor há quatro estames e um carpelo. Considerando a flor em posição frontal da foto que antecede, podemos ver no plano superior os dois lobos dorsais e no inferior três pequenos lobos.


São abelhas, como as da foto, que estão munidas da "chave" especial capaz de abrir os "lábios" da boca-de-lobo, entrar, servir-se do néctar e, retribuir polinizando-a através de trocas de pólen que transporta de flor em flor. 


Fotos: as duas primeiras de outubro de 2013 (Santa Clara, Coimbra) e as restantes de junho de 2012 (Janeiro de Cima, Fundão).








quinta-feira, 7 de novembro de 2013

PASSEIOS à MATA DO BUÇACO


Pode visitar a mata do Buçaco em qualquer altura do ano. É bom vaguear sem compromisso para uma primeira aproximação. 



Muito melhor, ainda, se se inscrever para um passeio por trilhos de acessibilidade média acompanhado por monitores da Fundação da Mata do Buçaco. Procurar em http://www.fmb.pt/index.php/pt/ , 231 937 000 ou contactar a Loja de produtos da mata.


Se quiser ir mais longe na aquisição de conhecimentos botânicos saiba que o Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro em colaboração com a Fundação tem orientado mini-cursos de botânica reportados ás espécies da Mata. Acompanhar o portal da Fundação.


O Buçaco, é claro, não é apenas a Mata e esta está longe de se resumir a objectos de interesse botânico. Deixe-se tocar pelo sortilégio da mata. Passeios históricos, visitas ás ermidas, fontes e riachos, à Cruz Alta ou, fique pela visita ao Palácio Hotel do Buçaco e seus jardins, suas árvores monumentais e, mais abaixo, ao Luso das águas termais, gastronomia... 

Fotos do passeio da tarde do domingo passado.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

HELICHRYSUM BRACTEATUM (SEMPRE-VIVA, FLOR-de-PALHA)



Denominá-la de "Immortelle" ou "Everlasting", parece-me manifestamente exagerado. Veja-se a cabeça já seca na foto, em baixo à esquerda.


Notável é a especial capacidade das suas flores de perdurarem com boa compostura e firmeza de cor por muito mais tempo, se lhe dermos uma pequena ajuda.  


Para tanto, há que cortar os pés de flores antes de totalmente abertas e pendurá-las em ramos, de cabeças para baixo, em local ventilado, escuro (para melhor preservar a cor) e seco, até secarem totalmente (demorará cerca de um mês).


O helichrysum bracteatum não tem aromas. Para favorecer a polinização basta-lhe o seu especial arranjo estético. 


Como nas compostas em geral, há que distinguir as verdadeiras pétalas que se encontram no interior do disco, pequenas, de forma tubular e pouco vistosas, das brácteas da periferia, largas e coloridas, liguladas, semelhantes a pétalas e, após a fase de crescimento, com textura de palha (daí, o nome "strawflowers" com que também são conhecidas).


Na foto anterior pode ver-se como as brácteas operam a protecção das verdadeiras flores do interior do disco.

Brevemente voltaremos com diferentes cores de sempre-vivas.

Fotos de 3 de novembro de 2013, nos jardins do Buçaco.