sábado, 30 de novembro de 2013

SOB O SIGNO DE AMADEO



Mãe! Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei.
Traz tinta encarnada para contar estas coisas!
Tinta cor de sangue verdadeiro, encarnado!
Eu ainda não fiz viagens.
Eu vou viajar.
Tenho sede! Eu prometo saber viajar.
Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um.
Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa.
Depois venho sentar-me a teu lado.
Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei tão parecidas com as que não viajei,                                                                                                                                             escritas ambas
com as mesmas palavras.
Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado!
Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa.
Eu também quero ter um feitio, um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa. Como a                                                                                                                                                           mesa.
Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!


A poesia é de Almada Negreiros e o quadro de Amadeo de Sousa-Cardoso exposto na Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, até 14 de janeiro de 2014 Sob o Signo de Amadeo Um Século de Arte.


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