quinta-feira, 31 de maio de 2012

GEDEÃO, ANTÓNIO - POEMA DA MINHA NATUREZA


Crescem as flores no seu dever biológico,
e as cores que patenteiam, por sua natureza,
só podem ser aquelas, e não outras.
Vermelhas, amarelas, cor de fogo,
lilazes, carmezins, azuis, violetas,
assim, e só assim,
tudo conforme a sua natureza.
Ásperas são as folhas, macias, recortadas
ou não, tudo conforme;
e o aprumo como tal,
ou rasteiras, ou leves, ou pesadas,
tudo no seu dever,
por sua natureza.

É como os animais.
Em cada qual, por sua natureza,
todo o dever se cumpre.
Comem, dejectam, dormem,
fazem amor nas horas competentes,
lutam, caçam, agridem,
rosnam à Lua, trinam, assobiam,
escondem-se, espreitam, fogem, amarinham,
dançam, mudam de pele, agacham-se, disfarçam-se,
tudo conforme a sua natureza.

Assim eu penso, e amo, e sofro, e vou andando.
Tudo conforme a minha natureza.


(António Gedeão, Novos Poemas Póstumos)



quarta-feira, 30 de maio de 2012

MALVA SYLVESTRIS (MALVA SILVESTRE, MALVA MOURISCA)


Quem alguma vez viveu no campo, por certo se cruzou com a malva, uma das mais prosaicas plantas dos espaços ruderais e campos agrícolas incultos.

Claro que, se deixarmos, também cresce nos terrenos cultivados. E de que maneira! Das informações que recolhi consta que a malva pode atingir 1 a 1,50 m de altura. Pois no quintal, em local sombrio e abrigado por uma parede a sul, está a passar os dois metros! E no ano passado não estava lá, pelo menos com altura que se visse.

Mas também há quem goste de as ver nos jardins. Para tanto, recolhem-se os frutos secos que na maturação se separaram formando vários frutos parciais. Estes, porém, não libertam as sementes salvo pela decomposição do ovário. Em crianças chamávamos de queijinhos ao fruto da malva ainda verde e inconscientemente comíamos alguns deles. As sementes serão semeadas em Maio, para florirem no ano seguinte. Bem tratada, a malva pode alcançar dez anos de vida e os dois metros de altura e um diâmetro de base do caule semelhante ao do pulso de um homem.

Não a cortei quando há dois dias procedia à limpeza de um talhão para cultivo. Vou esperar pelo amadurecimento das sementes que semearei no jardim. Aí já está a esperar por ela uma parente que espero apresentar em breve, a althaea officinalis (alteia ou malvaísco).


No passado, além de aplicações medicinais, também foi utilizada na cozinha alentejana acompanhando feijão seco e grão (Informação recolhida em José Salgueiro no seu curioso livro Ervas, Usos e Saberes, Plantas Medicinais no Alentejo e outros Produtos Naturais).

Nas folhas palmatifendidas com lobos dentados, a curiosa combinação do recorte marginal e o recorte profundo.

Fotos de 28 de Maio de 2012, no quintal.

terça-feira, 29 de maio de 2012

VICIA VILLOSA (ERVILHACA-DOS-CACHOS-ROXOS)


Onde o tractor não chega, sobram matagais que tenho de limpar com roçadora e à mão. Cuidei ontem dos crisântemos já encobertos por ervas altas. Tomei folgo e avancei. Em dia de calor, além do chapéu de aba larga não dispenso o guarda-sol.


Do matagal separo e deixo ficar a tremocilha ou a ervilhaca de que guardo sementes na altura própria. Em fins de setembro, outubro lavro e lanço as sementes à terra.


Umas e outras estão em flor. Já tenho chamado aqui imagens da tremocilha amarela. Hoje as imagens são de ervilhaca-dos-cachos-roxos(família fabaceae). Esta herbácea é uma esplêndida forrageira. O caule é meio erecto, meio prostrado e atinge entre 90 cm e 1,70 de altura. Para se apoiarem usa-se o cultivo consociado com a aveia e a cevada. Semeiam-se no outono. Aqui a seguir à colheita do milho, lavrava-se e estrumava-se a terra e seguiam-se as forragens (azevém, trevo, ervilhaca, tremocilha, luzerna, festuca e serradela). Como não tenho herbívoros a ervilhaca despertou-me o interesse pela valorização que traz aos solos (as raízes mergulham muito profundamente no solo) e ainda pela beleza das flores que abrem em abril-junho.


Ao lado, à direita, as flores da fumaria officinalis (família fumariaceae) numa tonalidade semelhante, embora as plantas nada tenham em parentesco ou utilidade.

Fotos de ontem, no quintal.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

OSTEOSPERMUM, DIMORPHOTHECA PLUVIALIS (MARGARIDA AFRICANA)


Esta variedade de margarida fecha as corolas ao fim do dia e só as abre de manhã. Também lhe pesa a pestana com o céu nublado. Mas, o que é espantoso é que também as feche com a aproximação da chuva, um movimento muito interessante de seguir.


Nas compostas (asteraceae ou compositae) e sobre um único invólucro de brácteas protectoras há um conjunto organizado de pequenas flores tubulosas unidas num disco central e um número desigual de pétalas mais prolongadas (lígulas) na periferia. No todo, aparentam ser uma única flor. Esta organização da inflorescência com marcada especialização entre um e outro tipo de flores, diz-se capítulo.


As flores desta margarida africana, muito abundante na África do Sul, são terminais e solitárias, geralmente de cor branca tendendo para o exterior num matizado violeta pardo ou amarelo. Aqui no jardim  abundam os vários tons de laranja (Osteopermum ecklonis) que dão magníficas jarras. Hoje em dia há híbridos para todos os gostos, rosa pálido, rosa ou amarelo com azul no centro.


A margarida africana iniciou já a floração que se prolongará até Setembro. Semeiam-se em Março ou Abril para serem transplantadas um mês depois, para locais de sol directo e com intervalos de vinte centímetros. No jardim tem funcionado a sementeira espontânea.
A esta planta me referi em Dezembro de 2011, neste sítio, sob o título Caprichos da Natureza. Mutação.

As fotos são de 19 de Maio de 2012, no jardim.

domingo, 27 de maio de 2012

ALOE (ALOÉ)


Mais de 90% do aloe é água, distribuída pelas folhas e sistema radicular. Não admira que sejam muito sensíveis ás geadas. Daí que tenha plantado este exemplar ao abrigo de uma sebe de jardim e de parte da copa de uma velha tangerineira.


Este ano quando cuidava da sebe apercebi-me das más condições em que se encontrava empurrado por hastes secas e atrofiado pelo relvado que o envolvia já por tudo quanto é sítio.

Ao libertar a sebe dos caules secos, arrancar a maior parte do relvado e das folhas secas que o envolviam, retirar-lhe as folhas mais danificadas, preenchendo os espaços libertados com mais terra vegetal, um tudo nada de adubo, o nosso aloe sentiu-se remoçar e  vai retribuindo com magníficas flores.  

Naturalmente que preferiria os raios directos do sol. Porém, como o tenho implantado no solo e para o defender dos frios do inverno - época em que entra numa espécie de dormência - optei por o manter abrigado embora com muito menos sol.

Fotos de 16 de Maio de 2012, no jardim.

sábado, 26 de maio de 2012

TREVO EM FLOR


Escondida entre o verde das folhas da roseira, surge a dois palmos do chão esta bela flor. Não é novidade: há anos que surge por esta altura no mesmo sítio do jardim. Vista de cima ela cobre inteiramente o caule nu que a sustenta.


Para o acompanhar até á base é necessário afastar simultâneamente várias folhas de roseira com todo o cuidado. Lá estão, não um mas muitos caules, embora apenas um com flor aberta e duas em botão.


E folhas (em rigor o conjunto dos folíolos é que forma uma folha). Quatro (geralmente são apenas três folhas que abrem com a luz indirecta dos primeiros raios, ainda antes do sol nascer, e fecham ao entardecer. Em cima foto tirada pelas onze horas. 


Foto de cerca das vinte horas. Folhas e flor recolhem. Boa noite!


O trevo é sensível á luz solar e responde com os movimentos de abrir e fechar. Porém, não orienta essa dinâmica como acontece por exemplo com o girassol. 

Fotos de ontem, no jardim.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

COLHEITAS DE MAIO


Plantadas em 19 de Março, dez dias depois começavam a brotar da terra. Com sessenta e seis dias arrancámos algumas batateiras que só estariam maduras aos noventa. Prometem!


Este ano temos uma produção excepcional de ervilhas. Pena que, sendo de quebrar as vagens tenham demasiado fio para retirar. Mas ainda assim são muito saborosas.


Excelentes as alfaces cultivadas nos túneis baixos. Em anos anteriores estariam já greladas. Recomendo os túneis baixos para esta cultura que nada levou de químicos.


E muita fava. As da foto não são representativas da grande maioria da produção deste ano: muito compridas e muito abundantes em cada pé.



Cebolinho. O alfobre demorou o seu tempo a arrancar mas parece ter entrado finalmente em velocidade de cruzeiro.

Fotos da colheitas da manhã de ontem.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

NA HORTA A EXPERIMENTAR NOVAS CULTURAS


Não é muito comum encontrar chalotas (Allium ascalonicum L.) à venda em Portugal. Nas lojas de mimos, ditas "gourmet" (não há palavras!), chamam-lhe subservientemente em estrangeiro, "échalote".


O que me decidiu ensaiar uma plantação de chalotas no quintal foi vê-las referidas no velho livro "A Horta do Tomé" de João da Motta Prego de que já aqui falei. Se o mestre a recomendava ao seu pupilo (e só transmitia o que antes tinha experimentado) é porque a cultura era viável em Portugal. Quem sabe? Nada como experimentar. Comprei então um saquinho de caras chalotas numa grande superfície de retalho e plantei-as em 10 de Abril deste ano. Têm crescido muito rapidamente. Veremos se com resultados. 



Alemães e nórdicos consomem muita couve-rábano (Brassica oleraceae var. Gongylodes), em cru e cozido. Já os franceses que as comeram abundantemente durante a guerra, agora, em tempo de vacas gordas, mais facilmente as oferecem a estes nobres animais. Não as vejo em Portugal. Mas acho-as algo exóticas meio couve, meio nabo.  Por isso as semeei em 24 de Março e, entretanto, já procedi ao transplante para local definitivo. Recentemente sachei e apliquei um tudo nada de adubo. Veremos o seguimento.


Já o rabanete é nova cultura apenas no meu quintal. Fiz um primeiro ensaio que, por mera distracção do artista, não resultou grande coisa. É que para colher o rabanete bastam trinta dias sobre a data da sementeira. Como deixei passar mais de sessenta, colhi rabanetes gigantes mas fendidos ou já semi-ocos! Fiz então um novo alfobre a segunda sementeira de que mostro uma vista parcial. Desta vez terei de estar mais atento. Continuarei a dar notícias.

Fotos de 20 de Maio de 2012, no quintal. 

quarta-feira, 23 de maio de 2012

BICHEZAS ALADAS NO QUINTAL


Venho teimando em não usar herbicidas. Sobram-me ervas de todos os tamanhos para arrancar e há que suar para manter limpos por algum tempo os canteiros. É uma variante do castigo imposto a Sísifo.


A chuva parou e retomei o castigo começando pelas caldeiras dos citrinos de larga copa. A floração continua mas já há muitos frutos formados. O solo está literalmente coberto pelas pétalas e folhas que apodrecem com a humidade das chuvas.


Em cima ouvem-se  as revoadas de abelhas e abelhões pousando de flor em flor desde o meio da manhã e até acabar a luz do dia. O som que emitem é que se pode experimentar bem perto dos cortiços e colmeias. Nenhuma me ferrou. Venho usando a técnica dos gestos lentos (ou de nenhum gesto) para não as distrair da colheita do néctar.


O quintal está, porém, povoado por incontáveis variedades de outras bichezas aladas que não apenas abelhas e quase todas são predadoras de pulgões e outros que tais, além do magnífico trabalho da polinização. Sei que há leitores que detestam estes bichos. Mas sem eles não haveria frutos e sementes. A agricultura colapsaria. Prefiro então continuar o trabalho paciente de controlar o avanço das ervas sem recurso a químicos, estes sim, inimigos destas bichezas e, no fim, verdadeiramente inimigos do homem. 

Fotos de maio de 2012, no quintal.

terça-feira, 22 de maio de 2012

NIGELLA DAMASCENA (BARBAS-DE-VELHO, DAMAS-ENTRE-VERDE)


A nigela está de volta. Depois de aparentemente eliminada pelos frios de inverno eis que ressurge graças à auto sementeira que acauteladamente fez nos tempos de promessa.


As sementinhas pretas da nigela acabam por cobrir uma área que atinge o quintal  ou porque o vento as transporta ou porque acompanham as plantas secas que colocamos nos montes de composto.


Nas duas últimas fotos vemos um azul de porcelana muito raro e fino que vai muito bem com o ponto largo do rendilhado das folhas em forma de agulhas. As flores da nigela cobrem várias tonalidades do azul, mas também as podemos encontrar nos tons branco, amarelo e levemente purpurado.

A flor envolta por um fino bordado de folhas modificadas e especializadas.

Fotos de 19 de Maio de 2012, no jardim.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

ARISTOLOCHIA CLEMATITE (ARISTOLÓQUIA VULGAR, CLEMATITE BASTARDA, JARRINHA DA EUROPA)


No passado dia 18 pedia a colaboração dos leitores para a identificação da planta da foto.

Finalmente, creio ter alcançado a sua identificação. Trata-se da aristolochia clematite  ou aristolóquia vulgar, uma planta tóxica e cuja seiva provoca irritação cutânea.
Entretanto, fiquei  igualmente a saber que os insectos polinizadores (pequenas moscas) penetram pelo tubinho que contém os órgãos masculinos e femininos da flor em busca do néctar mas, graças aos pelos interiores oblíquos no mais estreito do tubo, curvados para dentro, não conseguem sair - uma autêntica ratoeira. Com os seus movimentos carregam-se de néctar o que põe em marcha a polinização e provoca igualmente a decrepitude dos pelos. A partir dessa altura em que a flor já não precisa da colaboração do insecto, ele pode libertar-se. Partirá para outra flor transportando os gâmetas masculinos, possibilitando a fecundação cruzada. Curiosa planta!

Fotos de 17 de Maio de 2012, no jardim.



domingo, 20 de maio de 2012

4º MOTIVO DA ROSA



4º Motivo da rosa

Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.


Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.


Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.


E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.


Cecilia Meireles

sábado, 19 de maio de 2012

PASSIFLORA


A flor da passiflora abriu ontem iniciando o ciclo reprodutivo. Isso acontece porque os órgãos sexuais estão finalmente maduros. A flor posiciona-se voltada para cima - uma verdadeira plataforma de aterragem - e destaca-se das folhas para se tornar bem visível para os polinizadores. 


Na foto vê-se uma peça floral em forma de ogiva apontando para fora que é o ovário e sobre ele, curvados em direcção ao centro da flor em tons púrpura, vêm-se os três estiletes que rematam numa porção mais larga que são os estigmas. Por baixo e salpicadas do amarelo do pólen vêem-se as anteras. Depois de aberta a flor, as anteras podem demorar até duas horas para abrir e o néctar poder ser recolhido. Á medida que estas peças vão abrindo vai-se intensificando o perfume da flor.


Para efectivar a polinização da passiflora é necessário que o insecto tenha um porte suficiente para poder colectar o néctar no dorso, roçando as anteras e os estigmas.  


Comparando a posição dos estiletes das segunda e terceira das fotos pode comprovar-se o movimento destas  estruturas. A flexão dos estiletes coloca os estigmas na posição ideal para a fecundação. E parece haver relação entre os movimentos destas peças florais com idênticos movimentos de sépalas e pétalas por um lado e (a mais lenta) das fímbrias (vejam-se aquelas peças em forma de agulha, irradiando do centro, em cor púrpura, branca e azul.  Voltaremos à passiflora - uma trepadeira super-exótica das mais antigas do jardim - e, como se vê, uma planta verdadeiramente fascinante.

Fotos de ontem, no jardim.