segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

PORTULACA


 
Tarde quente de setembro, as flores das portulacas pendendo da floreira na janela surpreendem-nos pela mistura de cores quentes e aveludadas. A flor apresenta-se em 5 delicadas pétalas, corola de cerca de 2,50 cm de diâmetro e 2 sépalas. Abrem apenas em dias de sol e ao fim da manhã (há quem lhes chame, por isso "onze horas") e fecham ao fim da tarde. Na mesma floreira as flores, muito abundantes, podem ser bicolores. Oferecem-se simultâneamente em variados matizes: rosa, laranja, pêssego, vermelho, lilás, amarelo, creme e branco.
 

A planta da família das portulacaceae, é de muito fácil cultivo. Prefere o sol pleno e dá-se em quase todas as modalidades de solo mas tem vantagem em solos bem drenados e enriquecidos com matéria orgânica. Os ramos posicionam-se entre o erecto e o prostrado, os caules levemente carnudos, por vezes levemente avermelhados e muito tenros quebram facilmente. Claro, quando no solo não podem ser pisados.   
 
Suportam bem a secura mas agradecem a atenção de leves regas (o excesso leva ao apodrecimento das raízes) e um tudo-nada de adubação (mais adubo resultará em mais e maiores raminhos e menos flores).
 
 
Esta é uma planta anual que pode alcançar os 20 cm de altura. Prefiro as flores simples como as das fotos mas também as há dobradas (parecidas com rosas) ou semi-dobradas.
 
Não a tenho encontrado á venda aos molhos nos mercados e feiras como em seu tempo para zíneas e os cravos túnicos. No entanto é fácil encontrá-las em vaso nos retalhistas de plantas. Mas, á unidade, são demasiado caras.
 
Então, para começar, pode comprar um vaso de portulacas ou, melhor ainda, peça ao vizinho um pequeno ramo que também pode pegar por estacaria. A quem tiver o seu espaço livre de jardim sugiro que adquira um saquinho de sementes. Após as geadas da primavera passe o ancinho e lance-as à terra em canteiro ou apenas sobre o composto já curado, cobrindo as minúsculas sementes muito, muito levemente, pois precisam dos raios de sol para despontar mais rapidamente.
 
Aliás, no acto da sementeira poder-se-ão envolver as sementes com alguma areia tal como se faz com a semente das nabiças para assim se dispersarem melhor. 
 
A partir daí, ver-se-ão nascer muitas plantinhas que, uma vez transplantadas,  podem compor belos maciços de flores que atraem as borboletas. Nos anos seguintes multiplicar-se-ão naturalmente (ás vezes até em excesso!).

sábado, 29 de dezembro de 2012

ROSEIRAS E INVERNO


Normalmente em finais de dezembro tenho completadas as tarefas de protecção das roseiras. As folhas cairam na totalidade ou quase, a planta entrou ou está prestes a entrar em dormência.

Como medida higiénica de prevenção, limpo completamente em volta dos caules retirando folhas mortas com o ancinho e arrancando as ervas. Da base dos caules velhos retiro a casca  que possa ser retirada sem ferir. Se estiver na altura de pulverizar os citrinos com a calda bordaleza, aproveito para a aplicar igualmente nos caules das roseiras. Depois aconchego a planta com terra (uns 30 cm de altura) até á base dos ramos incluindo a união do enxerto que é especialmente vulnerável ás geadas. Atenção: não escavo a terra em volta mas trago-a geralmente do monte do composto já pronto. Assim, evito expor as raízes e encaminhar-lhes mais água das chuvas. 


Já usei a palhagem como protecção de inverno. Para evitar a dispersão das folhas, aplicava uma rede plástica em torno da base, tal como se usa para protecção contra roedores, mas mais larga (uns 45 - 50 cm de diâmetro) e dentro colocava a palha e as folhas secas. Mas a palhagem parece atrair também os ratos do campo e, sobretudo, é um excelente ninho de protecção a ovos e larvas das mais variadas bichezas e forma um ambiente óptimo para o desenvolvimento de doenças. Desisti até porque nesta altura do ano já não disponho de fenos e folhas suficientes e os do mercado são demasiado caros. 
 

Como o tempo vai seguindo relativamente morno e muito húmido, venho adiando a protecção das roseiras contra o frio não obstante estarmos nos últimos dias do ano. É que  a terra removida e a persistência das chuvas só pode contribuir para o apodrecimento de raízes e caules e atrair mais bichezas.

Se, uma vez realizada a cobertura, voltar o tempo morno é conveniente destapar para evitar o aumento da temperatura e o risco de apodrecimento.
 
 
As fotos, por incrível que pareça, são dos últimos dias deste ano, no jardim.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

CECÍLIA MEIRELES, CANÇÃO


Canção

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
— depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Cecília Meireles, "Viagem".



Foto Malema, outubro de 2012, no jardim.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

PEQUENO POEMA, SEBASTIÃO DA GAMA




Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.

Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.



Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...

Pra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...


Sebastião da Gama, Serra Mãe, Pequeno Poema, 1945.

Fotos de 6 de junho de 2012, canteiro dos cactos, no jardim.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

ENTRETANTO, RUY CINATTI

Entretanto,
Após um longo sossego, após um longo silêncio monótono,
Após todos os ruídos quotidianos,
Após esforços vãos por atravessar mares de despeito,
E pontas de cigarros esquecidas no líquido negro das chávenas,
E desejos mortos à força de protestos e evasivas
Que os gestos supérfluos apagam num instante de raiva surda,
Uma longa inspiração saudável e animosa,
Como a de um náufrago que as ondas arrojaram à praia
E acordou no Paraíso.
 
 
 

Meu Deus, meu Deus!, a quanto mais
Estarei eu obrigado, se,
Vagabundo,
No mundo inumerável das estrelas
Procuro a tua estrela sem a encontrar.

De um lado gritam: Senhor!
Gemem, suplicam, gritam...
Do outro explicam, explicam o teu Nome.



De um lado a desordem. Oh!, por vezes
Se sente ali bater as asas da pureza.
Do outro a justiça, tão cheia de certeza...

Senhor!
Oh!, vamos rezar pela certeza,
Até que o amor de Jesus a purifique.
Oh!, vamos rezar
Por aqueles que, uma vez filhos de Deus,
Só a seu Pai visível reconhecem.
Senhor!, com o vosso amor já não distingo ...
........................................................................




.................................................................................
Senhor!
Senhor!, a Ti é dada a escolha,
E que os meus sorrisos, e as minhas lágrimas,
Indiquem os caminhos,
Onde eu e eles nos encontramos,
Encantados,
E perdidos...

Ruy Cinatti, Obra Poética, Nós não somos deste mundo, Entretanto, INCM, Lx. 1992, pgs 57-58.

domingo, 23 de dezembro de 2012

ALCEA ROSEA (MALVA-ROSA) na evocação do PRESÉPIO DE NATAL


Início da manhã com céu limpo e temperatura amena,  promessa do domingo que antecede este Natal. O outono é a primavera do inverno, terá dito o pintor Toulouse-Lautrec. Mas hoje mais parece inverno-primavera no inverno. Em qualquer caso, é tempo de advento, tempo de espera para viver em torno do presépio. 


Saudosismo? Não! Estamos decididamente orientados para o Futuro.
 
"Quando nos aproximamos intimamente do presépio, percebemos que o natal não precisa da família [reunida] ... a família é que precisa do Natal para ser Família." (José Rui Teixeira in Equinócio de outono.blogspot.pt)  

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

POLYGALA MYRTIFOLIA OU POLYGALA DALMAISIANA (POLÍGALA)


Originária da África do Sul, a polígala da família polygalaceae forma um espesso arbusto perene, de folhas persistentes, verde-escuras, ovaladas a elípticas, com cerca de 5 cm, semelhantes à folha da murta. A planta pode alcançar entre 0,50 e 1,50 m de altura.
 
A denominação latina, provinda do grego, significa abundância de leite e remete para a convicção dos criadores de gado de que a ingestão da planta pelos rebanhos induziria uma maior produção de leite.


Num primeiro relance, as flores da polígala parecem ter semelhanças com as da ervilheira, um legume entre nós muito comum da família  das fabaceae mas, na realidade, são bem diferentes. Mostram de facto duas asas (sépalas) bem abertas e uma quilha, mas não têm a pétala estandarte da ervilheira. E, caracteristicamente, exibem um vistoso penacho na quilha. Surgem entre março e outubro e estão organizadas em cachos ou rácimos simples, terminais, de cor violeta-magenta.

A flor tem 5 sépalas desiguais, sendo 3 pequenas e 2 grandes de finas nervuras em forma de asas. Estas, encostadas uma à outra, encerram em tamanho menor, as pétalas, estames (órgãos masculinos) e pistilo (órgãos femininos).  As pétalas estão soldadas em tubo. No plano inferior dispõem-se franjas finas donde surgem o alto do gineceu e o conjunto de 8 estames bífidos e muito destacados.
 
Nesta altura é fácil encontrá-las nos revendedores até dez euros por planta.  Exagerado preço, sim, pois é de fácil multiplicação. Dá-se particularmente bem no litoral. Mas adapta-se facilmente a qualquer solo em zonas temperadas. Cuidado com as geadas! 
 
Fotos de junho de 2012, na Barra, Ílhavo.
 
 

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

ROSAS MINIATURA

 

Até ao fim, este ano vem sendo muito propício ás roseiras. Hoje trago fotografias de uma roseira miniatura, com cerca de 36 cm de altura, já há alguns anos bem adaptada ao jardim. Na foto de cima a rosa tem cerca de 2 cm de diâmetro.

 
Aqui, totalmente aberta, o diâmetro é de 3 cm. Esta foto é do passado dia 16. É espantoso como a flor resistiu tão bem á chuva, por vezes forte, destes últimos dias.
 
 
Esta roseira, como outras semelhantes aqui no jardim, cultivadas ao ar livre em plena terra, florescem todo o ano. É certo que as flores são pequenas, não muito abundantes e também não é grande a envergadura da planta. As folhas são também pequenas, muito próximas do tamanho nas roseiras dos silvados naturais. As cores são muito suaves.
Somemos a notável resistência ao tempo e ás doenças e a possibilidade de as cuidar envasadas até no interior da casa e teremos todas as razões para as incluir no roseiral.  
 
No entanto, não se devem confundir com outras, mais anãs que miniatura, de muitas e atraentes flores, vendidas em vaso nos espaços comerciais, em dias valentim e semelhantes, criadas especialmente para essas datas e que, depois - surpresa - não vingam. Vão para o lixo, tão descartáveis como os amores-coisa de todos os tempos.
 
Primeira fotos de 2 de outubro e as restantes de 16 de dezembro, de 2012, no jardim.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

HEBE (VERÓNICA ARBUSTIVA)


Sobre as últimas ilustrações, dizem-me: "plantas da época, tudo bem, acompanho, mas, cor, cor ... prefira a cor!". Cores quentes, vivas, espectaculares, entenda-se, também as prefiro. Porém, nesta altura do ano, só em estufas ou no hemisfério sul. Por mim, estou interessado em conhecer melhor as plantas de qualquer altura do ano, especialmente as nativas ou adaptadas à região, por mais discretas que nos apareçam. Mas, procurarei satisfazer o interesse de quem se dá ao trabalho, que agradeço, de se demorar pouco que seja neste espaço.


Afinal, até habitamos um país da Europa Meridional, no extremo sudoeste, e, por aqui á volta, de clima temperado, mais mediterrânico que atlântico. Assim, por exemplo, somos ou não privilegiados por em finais do outono ainda podermos contar com florações como a da hebe? Lembrar-se-ão de que em finais do mês passado publiquei fotos de uma outra variedade de hebe mas cuja floração tinha já terminado. Não esperava vir a deparar-me já nos finais do outono, com um exemplar florido.


Voltemos então à hebe, desta vez a uma hebe florida. Hebe é também o nome de uma figura da mitologia grega que representa a deusa da juventude. Ainda não será nada de especialmente espectacular? Mas que outro pequeno arbusto decorativo, cultivado no exterior, de folhagem permanente, oferece tão belas inflorescências nesta altura do ano?  Dir-me-ão: cores tristes, branco, violeta, púrpura, por vezes também azul ou cor de rosa. Mas a planta não é, apenas, cor.  

As folhas são de cor verde, simples, inteiras, persistentes, com cerca de 12 cm de comprimento e em forma de lança e dispostas segundo linhas perpendiculares, em pares opostos.

 
As vistosas flores estão organizadas em rácemos de cerca de 15 cm de comprimento, situados na extremidade das hastes. Os estames longos, numerosos e evidentes estão inseridos perto da base do tubo da corola e dão um toque exótico á flor. O perfume das hebes é muito chamativo para as borboletas que, afinal, precisam de néctar e pólen em todas as estações...

Fotos de 6 de dezembro de 2012, em Coimbra.

sábado, 15 de dezembro de 2012

LAMIASTRUM GALEOBDOLON (YELLOW ARCHANGEL)


Nesta altura do ano em que as flores não abundam, é talvez uma boa época para prestar atenção à folhagem persistente ou semi-persistente de plantas de cobertura de solos. São geralmente herbáceas que se espalham rente ao solo, formando um denso tapete vegetal, podendo servir de substituto à relva ou de tamanho médio até uns 20 a 40 cm ou de grande porte entre os 40 e 60 cm.

Podemos finalmente distinguir entre as que preferem a sombra (e por vezes não toleram mesmo o sol directo) e as que se adaptam bem à exposição ao sol. Estas são geralmente mais altas e de porte mais erecto. Mas a folhagem daquelas, quando resistentes ao frio, atraem sobremaneira a nossa atenção.

Nestas plantas, a folhagem e ás vezes igualmente as flores, distinguem-se desde logo pelo brilho das cores. E se o jardineiro tiver optado por as combinar, opondo cores quentes (vermelho e amarelo como o de cóleus) e cores frias (como o verde e prateado  das píleas) então teremos motivos suplementares para, mesmo em dias baços do final de outono ou no inverno, continuarmos a visitar os jardins ou, quem tiver condições, experimentar plantá-las.
 


Trago hoje, da família lamiaceae (a mesma do alecrim, hortelã ou da lavanda e mais evidente quando se compara a morfologia externa das flores), uma vivaz, de rápido crescimento, podendo formar densas cortinas que cobrem o solo.

Prefere a sombra. Exposta ao sol pleno ou em solos particularmente secos não sobrevive. As folhas de fundo verde na página superior, apresentam-se manchadas de cor prateada ou branca. São de forma ovalada, opostas, arredondadas na base e com margens serradas. O lamium em sombra oferece folhas mais largas, mais finas e de verde mais escuro.

 
Abundam as subespécies desta planta e mesmo estas podem apresentar variações como se vê comparando as duas primeiras fotos  com a última. As condições do habitat poderão explicar as diferenças. Na foto de cima a planta está mais exposta á luz natural e daí, talvez, o maior tamanho dos caules e o porte mais erecto, a folha mais estreita, menos brilhante.
 
Além do valor decorativo da folhagem, também contribuem para impedir o crescimento de ervas indesejáveis. No entanto, a planta é capaz de se comportar como invasiva, cobrindo outras semeadas e espraiando-se, se não for muito bem controlada.
 
As flores em forma de sino, são em amarelo brilhante e abrem por períodos muito curtos, entre abril e maio.

Não encontrei para ela  o nome em português em qualquer das variedades. Daí que ao lado do nome latino, tenha acrescentado o mais conhecido na língua inglesa.

Fotos(a 2ª manifestamente ampliada)do início deste mês de dezembro.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

APONOGETON DISTACHYOS (ESPARGO-DO-CABO)

 
Um curso de água intermitente, quase apagado no estio e grosso das chuvas outonais e da invernia, oxigenado pelo efeito dos desníveis do leito, corre à sombra das árvores e arbustos que o ladeiam, numa atmosfera saturada de humidade, com temperaturas mitigadas de verão e de inverno, criando um micro-clima muito adequado à população ribeirinha.  


Desperta-nos a curiosidade a vegetação parcialmente imersa. Vemos os conhecidos ranúnculos e os temíveis jacintos aquáticos e a lentilha. E deparamos com uma novidade florida: o espargo-do-Cabo, originário da África do Sul.


As folhas estreitas, em forma de lança ou elípticas, parcialmente mosqueadas, dançam em suaves movimentos ondulados embaladas pela corrente. Estão ligadas ao caule por um pecíolo muito longo.
 
As inflorescências em rácemos, brancas com anteras em lilás, saem bifurcadas de um espigão erecto, mantêm-se à superfície da água e espalham um delicado perfume que atrai as abelhas.  
 
A flor carece dos habituais cálice e corola. A família das aponogetoneaceae é, afinal, uma das mais primitivas do campo botânico.
 

Fotos do início de dezembro de 2012, nas cercanias de Sintra.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

TECELAGEM MANUAL e POESIA




A minha casa é concha. Como os bichos

Segreguei-a de mim com paciência:

Fachada de marés, a sonho e lixos,

O horto e os muros só areia e ausência.




Minha casa sou eu e os meus caprichos.

O orgulho carregado de inocência

Se às vezes dá uma varanda, vence-a

O sal que os santos esboroou nos nichos.




E telhados de vidro, e escadarias

Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!

Lareira aberta ao vento, as salas frias.
 



A minha casa... Mas é outra a história:

Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,

Sentado numa pedra de memória.


Vitorino Nemésio, A concha.

Fotos: outono já adiantado de 2012. Tecido, apenas com as mãos, em macramé por Malema, com motivos florais pintados pela nossa vizinha e amiga Lurdes Carvalho.

domingo, 9 de dezembro de 2012

ARISARUM VULGARE (CANDEIAS, CAPUZ-DE-FRADE)


Desde a infância que não voltara a ver estas candeias que atraiam a minha curiosidade pelas suas formas invulgares e elegantes e que tinham por habitat os solos argilo-calcários das vinhas em torno da aldeia.

As riscas longitudinais, brancas na base, depois verde-acastanhadas e purpuradas no capucho, dão-lhe um belo efeito. Na foto seguinte pode ver-se uma pontinha do espádice como se fosse um pequeno pavio saindo do tubo curvado da grande bráctea (espata) que o envolve.
 

Dão flor entre outubro e abril. No resto do ano pela ausência da flor e de folhas permanecem invisíveis aos nossos olhos. E, de facto, para sua própria defesa passam a época desfavorável do verão sem folhas ou flores reduzidas ao tubérculo subterrâneo.

È uma planta da família das araceae, herbácea, vivaz, de 10 a 30 cm de altura, sem ramificações. Cada folha e cada inflorescência nascem de um único caule, directamente do tubérculo. Ao longo dos caules vêem-se diminutas manchas escuras que parecem formigas. Esses tracinhos são visíveis na primeira das fotos. As folhas de longos pecíolos, são largas, em forma de seta ou coração e de cor verde pálido.


A flor, perfumada para atrair os insectos, não tem pétalas. A partir de baixo, a espata de cor acastanhada e em forma de capucho protege as inflorescências em cacho que se encontram no interior em torno do espádice, as femininas mais abaixo e menos numerosas.

Os frutos são bagas, aliás, tóxicas.

Multiplica-se por divisão dos tubérculos.

Fotos em ambiente de floresta, de 1 de dezembro de 2012.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

SENECIO MACROGLOSSUS (HERA-DO-CABO)


Num primeiro relance julguei ver as folhas de uma hera, não de uma hera qualquer pelas manchas brancas ou branco-amareladas nas bordas que lhe dão um toque de exotismo. Trata-se, de facto, de uma trepadeira. Surgindo de entre a mancha da folhagem vi ainda algumas inflorescências amarelas, típicas das compostas. Só de muito perto me apercebi, com surpresa, que eram órgãos da mesma planta.


Na ausência de flores teria concluído tratar-se de uma hera, aliás, muito decorativa. A forma da inflorescência ilumina o caminho para a solução. As flores do círculo externo são largas. Aqui são em amarelo pálido mas também as há em  branco. As do círculo interno são amarelas como as das comuns margaridas. Florescem todo o ano. É, de facto, uma asteraceae enquanto que a hera pertence á família das araleaceae.  


A hera-do-Cabo é uma planta herbácea, vivaz, de folhagem perene. Com os seus caules finos e flexíveis, mas sem gavinhas,  entrelaça-se com o que encontrar como suporte. As folhas são algo carnudas e de verde-brilhante.  
 
As plantas das fotos são cultivadas em jardim. Mas a hera-do-Cabo pode ser cultivada em interiores com boa luz. Duas magníficas opções!
 
Fotos de 1 de dezembro de 2012.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

MUEHLENBECKIA COMPLEXA (PLANTA-ARAME)


Pendente de alto muro voltado a norte e em larga extensão, chamou-me a atenção exactamente pela massa enorme que oferece.  Aproximei-me e deparei então com as florzinhas meio envergonhadas, confundidas entre o verde das folhas redondas, muito pequenas e as hastes em tom castanho e roxo.
 
Originária da Nova Zelândia, esta curiosa trepadeira perene da família das poligonáceas mostra um rendilhado de ramos finíssimos mas resistentes, cobrindo cerca de 4 metros em altura.  O verdadeiro tamanho das hastes não será fácil de medir.


No seu habitat natural é uma notável barreira á penetração humana. É usada em sebes e vedações, oferecendo boa resistência ao vento e à salinidade. Em solos férteis e voltada ao sol, carece de controlo sob pena de se tornar invasiva. Um modo de controle será o de a plantar em vaso-contentor.


As inflorescências são de cor branca ou branca-amarelada, com pequeno valor ornamental. Nesta altura ainda exibe as flores já com as sementes visíveis, sendo os meses dos meados do verão até meados de outono mais propícios á floração.

Multiplicação fácil por sementes frescas ou por estaquia.
 
Fotos da passada semana, em Sintra.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

NOTÍCIAS DO QUINTAL, outras


De entre as plantações e sementeiras no outono, algumas são novas. È o caso da plantação de alfaces. Antes não tive coragem de arriscar a plantação ás inevitáveis geadas dos meados de outono em diante. Desta vez abriguei a primeira dúzia em garrafões de plástico e as seguintes em túnel baixo.
 
Aparentemente, estas últimas têm melhor crescimento que as dos garrafões o que já era esperado pela qualidade do abrigo. Veremos se umas e outras continuarão crescendo. É que as grandes geadas estão aí!
 
 
Também estou a experimentar a sementeira de grão-de-bico que foi tradicional na economia de subsistência da aldeia e sem grandes riscos, mas que não me lembrara ainda de fazer. Comprei as sementes a granel, na cooperativa. Já despontaram e dali não vislumbro queixas do frio. São valentes (ou naturalmente adaptadas?).
 
 
De entre as sementeiras já aqui experimentadas voltei às favas, embora seja o único consumidor da casa, e às ervilhas, sempre apetecidas e que costumo "encostar" ás faveiras.
 
Falhada a primeira sementeira do início do outono, de nabo greleiro e nabiça (humidade insuficiente?; sementes sem qualidade?) voltei a elas na primeira quinzena de novembro. Já brotaram na maior parte.
 
 
Em cima, flores em cultura ao ar livre. Uma beleza juvenil e muito frágil, enfrenta a adversidade do clima e tenta persistir na vida até, pelo menos, ver garantida a continuidade dos seus genes. As fotos, quem diria, são do início da manhã do passado sábado.