quarta-feira, 30 de novembro de 2011

REFLEXOS


Paisagem
Passavam pelo ar aves repentinas,
O cheiro da terra era fundo e amargo,
E ao longe as cavalgadas do mar largo
Sacudiam na areia as suas crinas.



Era o céu azul, o campo verde, a terra escura,
Era a carne das árvores elástica e dura,
Eram as gotas de sangue da resina
E as folhas em que a luz se descombina.

Eram os caminhos num ir lento,
Eram as mãos profundas do vento
Era o livre e luminoso chamamento
Da asa dos espaços fugitiva.

Eram os pinheirais onde o céu poisa,
Era o peso e era a cor de cada coisa,



A sua quietude, secretamente viva,
E a sua exalação afirmativa.



Era a verdade e a força do mar largo,
Cuja voz, quando se quebra, sobe,
Era o regresso sem fim e a claridade
Das praias onde a direito o vento corre.


Sophia de Mello Breyner Andresen, Poesia 1944.

Fotos: viajar para outros horizontes, através da sensibilidade-gentileza da JM. Muito obrigado. Beijinhos grandes.
E as minhas desculpas aos leitores pelas "quebras" na apresentação do poema que, como é evidente, foi escrito com unidade formal. 

terça-feira, 29 de novembro de 2011

REFLEXOS DE UM OUTONO DOCE, SEM PRESSA


Noites, madrugadas e começo das manhãs já fica bem fresco. Ontem, só pelas 10 h consegui retomar os trabalhos no quintal.


Até às 4,30 - 5 horas da tarde esteve um sol magnífico.


Começam a aparecer as primeiras árvores despidas. Mas ainda há muita folha verde, bem agarrada aos ramos.


Aqui a humidade relativa anda pelos 75 a 80%. Normal. Este céu limpo, tão bonito, mas tão fora de tempo continua a preocupar. Tempo bom para os patos a que não faltam algas, limos e musgos frescos. Fotos de ontem.


O que virá a seguir?

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

CONSOLIDA AJACIS (ESPORAS-DE-JARDIM, ESPORAS BRAVAS)


As crianças de agora ainda guardam pétalas de flores entre as folhas dos livros? Os amores-perfeitos, por exemplo, tinham geral aceitação pois as suas pétalas são de tamanho adequado e de muito variadas cores e composições de cores.


Já com as flores das Esporas-Bravas, abundantes entre maio e julho, se faziam coroas de flores que também se guardavam nos livros. Os esporões que formam o receptáculo e a forma deste,  facilitam a ligação entre si das flores que pelo seu encurvamento natural acabam formando um círculo fechado.


Esta é também uma planta ornamental dos jardins mas muito comum nos terrenos em descanso, nas proximidades de terrenos de cultivo e jardins ou por entre os restolhos de palha das searas. As flores são azuis e por vezes, brancas ou rosadas. A pétala superior forma o tal esporão com cerca de 12 a 20 mm.


Os zangões são visitantes assíduos destas flores com vantagens mútuas devido a serem portadores de uma língua muito comprida com que mais facilmente alcançam o néctar.


Convém, no entanto, ter presente que toda esta simpática planta tem compostos tóxicos, sobretudo nas sementes que podem envenenar pessoas e podem inclusivamente prejudicar a saúde do gado.

domingo, 27 de novembro de 2011

BALLOTA NIGRA (BALOTA, MARROIO NEGRO, ERVA-DOS-PAVIOS, ERVA-DAS-LAMPARINAS)


Gostaria de conhecer mais de toda a flora do quintal, cultivada ou não. Tendo em conta a época do ano que é bem menos exigente em trabalhos de horta e jardim, também me ocupo com as infestantes embora nem sempre sejam aquelas plantas mais vistosas para trazer aqui ao convívio com os leitores. De modo que, uma vez por outra, seja-me permitido trazê-las à colação.
Hoje trago aqui uma planta bem discreta por se circunscrever a uma zona bem delimitada do quintal embora cada exemplar possa ali atingir cerca de um metro a um metro e trinta de altura. Tem as suas semelhanças com a  MENTHA SPICATA (hortelã verde),  e com o MARRUBIUM VULGARE (marroio branco, erva virgem, marroio vulgar - uma espécie semelhante à hortelã brava) especialmente as folhas. Mas bem se diferencia da primeira desde logo por não ser perfumada. 


A flor do marroio negro bastante ampliada. Mas onde cresce o marroio espontâneamente não deverá crescer bem a hortelã, que são da mesma família? Em breve terei a resposta.
Diferentemente, a hortelã verde (em cima) é aromatizada e usada quer na culinária (nas festas de casamento de outros tempos, a canja vinha acompanhada de um raminho de hortelã) quer como planta medicinal. Quem não tomou ou toma aqueles chás de hortelã que acalmam o estômago?

Este marroio negro aparece todos os anos no quintal num certo local sombrio. Há outros locais sombrios mas, felizmente, o marroio é conservador: mantem-se por ali. Por mais que se movimente a terra ele persiste. A flor surge entre março e outubro. 


Caule de marroio negro.

sábado, 26 de novembro de 2011

VIOLA (VIOLETA)


Flores de jardim em fins de Novembro? Não há muito por onde escolher!
Esta espécie de violeta não é que mais comummente aparecia nos jardins, mas é antes uma pequena planta herbácea, perene, que se estende rapidamente rente ao solo como erva daninha, formando tufos de folhas verde-escuro. Proporciona uma boa cobertura ao nível do solo.


Com as ampliações que as máquinas de hoje permitem fazer até parece que as violetas são daquelas flores de dar muito nas vistas.


Pura ilusão. Mas nós sabemos que estão lá, pequeninas, à sombra da laranjeira. Com a humidade bastante parecem remoçadas pois no verão sofrem demasiado com o sol.


E eis que deram para florir. As flores parecem envergonhadas semi-escondidas por entre a folhagem do maciço de violetas. Afastamos umas quantas folhas e lá estão, mais uma aqui, outra mais acolá., azuis, violeta, lilás ou branco. Aqui domina o azul e o lilás. E que suave perfume!

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

ESTRELAS MAIORES DOS FINAIS DE NOVEMBRO


Lentamente, muito lentamente, o outono começa a impor-se. Tropaeolum majus (Chagas) muito vulnerável ao frio. Não suporta as geadas. Em anos anteriores, caules e folhas apresentariam nesta altura um aspecto desolador. 


Estranhamente, demasiadas árvores de folha caduca mantêm-se verdes e seguram as folhas, quando deveriam estar despidas. Quase dezembro, seria muito difícil encontrar estas flores no jardim descoberto.


Com este prolongado e inquietante verão de São Martinho, ainda vão havendo flores no jardim que foram verdadeiras estrelas de verão.


Mas o vento recomeçou a soprar, frio e persistente, sobretudo de tarde. Não obstante o sol tem estado esplêndido. Cravos túnicos gostam de sol. Para já, contentam-se com sol de outono.
As fotografias são de ontem.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

ERODIUM MALACOIDES (ERVA-RELÓGIO, ERVA-GARFO, MARIA-FINA, AGULHA-DE-PASTOR)


Quem não brincou com a erva-relógio?


Crescem à beira dos caminhos e terrenos incultos, mas também nos terrenos cultivados, onde são vulgares. È uma planta anual (por vezes, bianual) da família dos gerânios (geraniaceae), que floresce entre durante o inverno e até Abril.

Neste ano meteorológico tão especial, já estão a florir. 
As flores são de cor purpura, com 5 pétalas e 5 estames.

Fruto com estilete que se separa na frutificação.


É exactamente este estranho fruto inicialmente de cor verde mas que  com o tempo vai tornar-se em castanho escuro, que as crianças usavam (ainda brincarão com os relogiosinhos?) separando as várias peças para as ver rodar lentamente como um ponteiro de relógio.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

JANELAS


A arte de ser feliz

Houve um tempo em que minha janela
se abria sobre uma cidade que parecia
ser feita de giz. Perto da janela havia um
pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra
esfarelada, e o jardim parecia morto. 


Mas todas as manhãs vinha um pobre
com um balde e, em silêncio, ia atirando
com a mão umas gotas de água sobre
as plantas. Não era uma rega: era uma
espécie de aspersão ritual, para que o
jardim não morresse. E eu olhava para
as plantas, para o homem, para as gotas
de água que caíam de seus dedos
magros e meu coração ficava
completamente feliz.


Às vezes abro a janela e encontro o
jasmineiro em flor. Outras vezes
encontro nuvens espessas. Avisto
crinças que vão para a escola. Pardais
que pulam pelo muro. Gatos que abrem
e fecham os olhos, sonhando com
pardais. Borboletas brancas, duas a
duas, como refelectidas no espelho do ar.


Marimbondos que sempre me parecem
personagens de Lope de Vega. Às
vezes um galo canta. Às vezes um
avião passa. Tudo está certo, no seu
lugar, cumprindo o seu destino. E eu me
sinto completamente feliz.



Mas, quando falo dessas pequenas
felicidades certas, que estão diante de
cada janela, uns dizem que essas coisas
não existem, outros que só existem
diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a
olhar, para poder vê-las assim.

Cecília Meireles


terça-feira, 22 de novembro de 2011

SERÁ O SONO CONTAGIOSO?


Estás com sono, gato?
Naaaa... E tuu...?


Não percebo porque é que está sempre a dormir.  Eu, só durmo de noite.


Toda a gente viu que eu não queria, mas...

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

CALENDULA ARVENSIS (CALÊNDULA, ERVA VAQUEIRA)


A calêndula (não confundir com a calêndula de jardim - calendula oficinallis) tornou-se uma verdadeira praga. Antes só era vista por aqui no final do inverno, começos da primavera, embora a Flora Digital de Portugal da UTAD situe a floração entre dezembro e maio.

Mas já em outubro deste ano começaram a aparecer as primeiras e estão em força, sempre em grupo, nomeadamente na horta onde não fazem falta nenhuma. Estas fotografias de cima são de ontem em que se registaram máximas de 18 graus e mostram o que pode acontecer se deixarmos que a natureza siga o caminho próprio!


Ao meio dia ainda as flores estavam fechadas pois os raios do sol não tinha rompido a névoa. Normalmente só abrem completamente ao sol pleno para fecharem à noitinha.
Esta planta, também conhecida por malmequer dos campos, é outra das tais que nos seduzem pelas suas belas flores mas são altamente invasivas. Tenho vindo a cortar muitas à enxada. Talvez devesse queimá-las como faço a outras infestantes. Além de as cortar, recolhê-las e transportá-las, seria cá um trabalhão... Mas que adiantaria se os campos da vizinhança, cultivados ou incultos e os caminhos estão cheios delas? 

O seu tempo de vida pode ser de semanas ou meses mas nunca excede o ano. Deixam no entanto as incontáveis sementes em estado de dormência à espera de nova época para se resolverem em novas plantas. A calêndula revela-se extremamente resistente, subsistindo mesmo depois de arrancada se o tempo estiver húmido. 

As flores exteriores são em forma de língua e são femininas. As do interior do disco são tubulosas e masculinas. A flor é, aliás, uma inflorescência em capítulos.
Os frutos desta planta dispõem de pequenos espinhos que facilitam a sua dispersão pelas aves.

domingo, 20 de novembro de 2011

LIMOEIRO E PROPAGAÇÃO POR SEMENTES


Abri ontem um limão. De especial, a germinação das sementes no interior do fruto. Teoricamente, nestas naturais condições as sementes poderiam vir a resolver-se em limoeiros viáveis. Parece-me que na prática isso não aconteceria com um único limão tombado no solo.

Aqui o seu interior mais de perto. É mais difícil a propagação do limoeiro por sementes (propagação sexuada) pois, fora os casos exclusivamente naturais, implica hoje em dia vários actos técnicos na sua preparação: lavagem, limpeza da película que envolve a semente, nova lavagem, secagem e armazenamento. Seguidamente ainda são sujeitas a técnicas laboratoriais para obter a maior percentagem de germinação.
Porém, quem quiser experimentar poderá resumir o processo à recolha, lavagem,  retirada da película envolvente, secagem à sombra sobre papel de jornal. Seguidamente coloca 2 a 3 sementes ou 1 apenas se for grande à profundidade do triplo do seu tamanho, num saco de plástico preto com terra vegetal, um furinho no fundo para escoamento da água e com uma pequena camada de areia no topo. Quando aparecerem as raízes no fundo do saco poderá pensar num local definitivo para a muda.

A propagação por sementes é também aquela que permite obter novas variedades, distintas da árvore mãe e distintas entre si, pela segregação e recombinação genéticas. E é usada ainda pelos viveiristas para obter porta-enxertos ou cavalos. Porém, só a propagação por enxertia (propagação assexuada) garante a manutenção das características da matriz o que não sucede com a propagação por sementes. Além disso é mais rápida que a propagação por sementes, e mais curto o período improdutivo.
Nota: nesta semana em dia enxuto, darei uma segunda volta de calda bordalesa aos citrinos e fruteiras em geral. Humidade e tempo frio que se avizinha torna esta intervenção indispensável.