segunda-feira, 29 de outubro de 2012

No mar, no mar, no mar, no mar,


(...)
No mar, no mar, no mar, no mar,
Eh! pôr no mar, ao vento, às vagas,
A minha vida!


 
Salgar de espuma arremessada pelos ventos
Meu paladar das grandes viagens.



Fustigar de água chicoteante as carnes da minha aventura,
Repassar de frios oceânicos os ossos da minha existência,
Flagelar, cortar, engelhar de ventos, de espumas, de sóis,
Meu ser ciclônico e atlântico,
Meus nervos postos como enxárcias,
Lira nas mãos dos ventos!

(...)

Extraído da "Ode Marítima" de Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa.

domingo, 28 de outubro de 2012

DIGITARIA (MILHÃ)


Há dois anos, neste talhão do quintal, foram plantadas batatas. Este ano descansou.  Após as chuvas de outono a aqui chamada milhã invadiu quase tudo nas áreas há pouco cultivadas. O concurso com outras herbáceas é-lhe, porém, menos favorável noutras áreas do quintal com mais anos de repouso. Beneficiada pelo estrume sobrante?

Num quintal contíguo, há muitos anos abandonado, não se vê uma única destas plantas. Aí é a monotonia com o domínio quase absoluto de uma espécie de herbácea.
 
 
O caule é oco, separado por nós sólidos, e nele se inserem as folhas de forma linear que na base o envolvem com uma bainha seguindo-se a lígula e o limbo foliar. As flores nas inflorescências em forma de espiguetas, são  muito pequenas, sem corola, e são polinizadas pelo vento. Estas ervas de elevada densidade, têm uma produção de sementes elevadíssima que se conservam viáveis por muito tempo. Há 30 anos atrás, o destino desta gramínea era a alimentação do gado. Pertence ao género digitaria e à família das poaceae - mesma família do arroz, trigo ou do milho.
 
 
Ontem apliquei-lhe a roçadeira para "abrir caminho" até ao fundo do quintal, pois é desagradável que até ao meio-dia, pelo menos, nos molhem as calças com as gotas do orvalho ou da chuva. Aproveitei para limpar em torno dos canteiros ainda em produção. A palha irá ser incorporada no solo. 

Fotos dos últimos dias, no quintal.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

CUPHEA GRACILIS (FALSA-ÉRICA, CUFEIA)


Um pequeno tufo de humildes cufeias, revigoradas pelas últimas chuvas, vive em esplendor estes dias de outono antes que as geadas as reduzam a uns tristes e desolados raminhos  secos.
 
 
Mas, abaixo da superfície do solo, persistirá então a vida em longo letargo, adaptada, até que a toque a promessa de luz e amenidade da primavera. Despertará e novos rebentos irão por certo aparecer por entre os velhos raminhos secos do ano anterior.
 
Aí daremos uma ajuda cortando-os á tesoura para que não firam e não estorvem os rebentos juvenis.
 
Por agora, a cufeia parece iluminada. Aquele verde claro das folhas com as margens levemente retocadas a vermelho-acastanhado e que se inserem em caules deste mesmo tom, resplandece. As pequenas flores em forma campanulada, com o tubo da base raiado de vermelho, parecem absorver quanta luz podem, enquanto as folhas a espelham com magnanimidade.  
 
Uma pequena jóia, singularmente lapidada.
 
Fotos de ontem, no jardim.
 

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

CORES DE OUTONO

 
O vento voa,
a noite toda se atordoa,
a folha cai


                                               Haverá mesmo algum pensamento
                                               sobre essa noite? sobre esse vento?
                                                      sobre essa folha que se vai?


                                                                Cecília Meireles, Epigrama 9

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

MÁS ERVAS, CHENOPODIUM ALBUM (CATASSOL)


Com as primeiras chuvas de outono e as temperaturas amenas tem sido, como é habitual, uma autêntica explosão de más ervas.


O chenopodium (família chenopodiaceae) está entre as piores.
 
Herbácea muito vigorosa, de colonização rápida e densa. O caule estriado, cresce na vertical, porém, com o peso das flores, torna-se pendente. Alcança 1,50 m de altura.
 
As folhas são alternas e pecioladas. A margem das folhas da base é dentada. As da parte superior do caule, onde despontam as inflorescências, são inteiras e de forma lanceolada ou oval-lanceolada.
  
 
As flores são verde-prateadas ou acinzentadas. Produz uma média de 3.000 sementes por planta!
 
Tenho recolhido cuidadosamente algumas plantas, uma a uma - trabalho insano - arrancando-as ou cortando-as á tesoura, pela base. Transporto-as, depois para um local escolhido, junto-as em monte a fim de secarem um tanto e, finalmente, lanço-lhes o fogo.
 
Seguir-se-á a preparação do solo para finalmente lançar, conjuntamente, as sementes de centeio, aveia e tremocilha que, se forem bem sucedidas como espero, hão-de fazer uma eficaz concorrência ás más ervas e servir de adubo verde para enriquecimento do solo.
 
Fotos destes dias de outubro, no quintal.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

ARBUTUS UNEDO (MEDRONHEIRO)


Surpreende-me a abundante frutificação do medronheiro. É muito superior á de um arbusto em natureza nas matas, onde o solo é pobre e seco nos verões, dispondo em todo o caso da luz já filtrada pelas árvores. Aparentemente o  nosso medronheiro tem mais frutos do que folhas... relativa fertilidade do solo? efeito das regas no período de seca e de alguma poda?


A verdade é que á medida que os anos passam, o nosso medronheiro vai-se esmerando na produção de frutos.

 
Provamos um ou outro: agradáveis, talvez excessivamente doces e por aí temos ficado. Oferecemos. Parece que o fruto anda mal cotado: ainda se faz aguardente de medronho? O nosso medronheiro está plantado no limite do quintal com a rua, mesmo á mão de semear, mas parece que já não há crianças que se deixem tentar por frutos tão apelativos e ainda assim, raros fora das matas... 
 
Vamos tentar este ano a doçaria de medronho. Voltaremos então a este tema.
 
 
Fotos destes dias de outubro, no quintal.
 

domingo, 21 de outubro de 2012

ALLIUM SCHOENOPRASUM (CEBOLINHO)


O cebolinho (família das alliaceae ou liliaceae) é uma planta bulbosa, aromática e condimentar que pode cultivar em vaso, à janela da cozinha. Consumimos habitualmente o cebolinho nas saladas, nas omeletas, molhos, queijos brancos e em tudo em que normalmente entra a cebola. 
 
Prefiro a terra do quintal. Este ano fiz uma sementeira desconforme de cebolinho - vá-se lá saber porquê - nem sequer me detendo com uma única variedade.


Temos dado muito a quem a aprecia. Também congelámos mais do que o suficiente.
 
E chegámos a meados de outubro, as folhinhas ocas, de secção redonda, verde-acinzentado, estão viçosas, muito mais altas e ... cada vez há mais. Não me tinha apercebido que o cebolinho é planta vivaz!
 
Aqui na aldeia não é coisa com se perca tempo e a exposição no supermercado é dirigida ao povo aburguesado e com poder de compra. No entanto, não há nada mais fácil de cultivar e com excelentes resultados em quantidade e qualidade.


Uma imagem dos pés do cebolinho.
 
Deve ser cortado raso de três em três meses, diz-se, para acelerar o crescimento de folhas tenras - mesmo que se tenham de deitar fora o resultado do corte! o que, aviso, é contra os meus rurais princípios. Nunca o fiz, está bom de ver. Por isso é que as folhas estão tão "gordas"! Adiante... marcham na mesma. 
 
Fotos de meados deste outubro, no quintal.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

PYRACANTHA COCCINEA (PIRACANTA)



Cachos de belas bagas de piracanta, vermelhas, brilhantes, carnudas, estão de volta. Os melros do quintal adoram-nas. Mas, atenção, são tóxicas para humanos! È um arbusto persistente já notável quer pela folhagem quer pelas flores brancas em corimbos que abrem em maio, têm um perfume assinalável e, por isso, são muito chamativas a abelhas. 

 
Em flor. Estávamos a 10 de maio de 2012.


È de cultivo muito fácil e suporta bem as podas que hão-de domesticar o rápido crescimento que pode alcançar os 4 a 5 metros de altura. Notem-se os espinhos aguçados (pertence á família das rosáceas) que se destacam nos lançamentos  laterais e que se adequam a uma sebe defensiva.


As folhas de verde claro em jovens e depois de verde escuro, são brilhantes, duras e lanceoladas, de bordo finamente dentado (como as das roseiras), de pecíolo curto, medem entre 2 e 5 cm de comprimento.  

 
A piracanta das fotos - um híbrido -, está plantada junto a uma parede fria e desabrigada mas tem resistido muito bem. Em todo o caso, usamos a palhagem do solo em volta para a defender das ervas tanto mais que ao tentar removê-las corremos o risco de virmos a ser atingidos pelos espinhos.
 
Fotos de outubro de 2012, no jardim.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

COSMOS BIPINNATUS

 
 
É comum ás compostas a organização das flores em capítulos (flores inseridas num receptáculo discóide ou arredondado, protegido por brácteas). As do centro, em tons de amarelo, são normalmente tubulares mas uma ou outra podem ser liguladas. São também hermafroditas (com androceu e gineceu na mesma flor) e férteis e as da orla, alongadas, dizem-se liguladas e são neutras.   
 
 
As flores de cosmos da periferia são geralmente em número de oito.
 
 
Nem sempre, como se vê na foto de cima. Aqui é notória a disposição radial das flores periféricas.  
 

Na foto acima, uma jarra de cosmos em que sobressai a forma pouco comum das lígulas da periferia que, em geral, são obovadas e de recorte dentado e aqui são algo disformes. As flores da jarra saíram do canteiro reportado na 2ª das fotos.
 
Foto de outubro de 2012. 

domingo, 14 de outubro de 2012

ABÓBORA, CANÇÃO DE OUTUBRO


A minha mulher adora estes frutos da aboboreira. Não, não é por "razões" de culinária que, aqui na aldeia, quando muito, interessariam sobremaneira a um palato porcino ainda não totalmente desnaturado pelo prato único das rações importadas. Nem por "razões" ciêntíficas pois nem por sombras ousaríamos pôr em cheque a segunda lei de Newton, demais a mais usando um objecto de formas tão toscas e inconstantes. Fiquemos pelas sugestões das imagem e pelo tacto: é que, cada um é por si só, aquela caixinha de surpresas que nunca se deixa esgotar num único toque, nem numa única mirada. Afinal, um verdadeiro caleidoscópio.


Se combinadas sem preocupações de número, deixam entrever aspectos ainda mais recônditos.
 

Por isso, tenho vindo a semear, ano a ano, as abóboras decorativas que acompanho assiduamente no processo de crescimento e sem esquecer as boas regas. A estrumação prévia do solo também é fundamental para se obterem os melhores resultados. Como se pode imaginar, colhemos muitas mais e de colorido o mais variado mas, claro, não cabem todas neste espaço. No fundo, é como cultivar flores. Estão lá, tão só, para alegar as nossas almas. E, valha a verdade, conseguem-no!
 
 
Do significado até ao significante ou o modo humano de criar. Uma recriação artística por Malema, também autora das composições mais acima.

Fotos de outubro de 2012.

sábado, 13 de outubro de 2012

PANDANUS UTILIS (PÂNDANO)


As vigorosas raízes aéreas, raízes-escora ou raízes-palafita, manifestam a natureza do habitat desta curiosa árvore tropical, originária de Madagáscar: areais marítimos ou pantanosos.
 

Vista de baixo. Curiosas as estrias anulares que envolvem os troncos e resultantes de cicatrizes foliares. O pândano, da família das pandanaceae, pode atingir os 15 - 20 metros de altura no seu habitat de origem, mas na Andaluzia onde os fotografei, reveste mais a forma de arbusto com um máximo de 5 metros. Apresenta-se muito ramificado na parte superior onde surge a folhagem densa .


Na foto, as drupas maduras destacam-se e caem. O receptáculo da infrutescência é comestível quando o todo é jovem e ainda verde. O fruto é apreciado em pastelaria. As grandes e duras folhas podem ser cortadas em tiras, secas ao sol e entrançadas para serem aplicadas em cestaria e chapelaria.
 
Fotos de setembro de 2012.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

MUSA (BANANEIRA)


É entre nós o mais comum dos símbolos da tropicalidade. Preferida dos preguiçosos pela facilidade em descascar e não tem caroço...



Mas já teve! Pelo menos, na banana primitiva, até aos finais do séc. XIX, princípios do XX. E hoje, ainda tem, em locais mais remotos. Para tornar fácil a mastigação, (e para o macaco não se engasgar, dizem os brasileiros...) técnicos agrícolas conseguiram obter bananas sem caroço destinadas ao comércio, através de cruzamentos sucessivos. Consequentemente a multiplicação da bananeira é feita de forma assexuada por propagação vegetativa a partir do rizoma. Por este processo a planta e os frutos crescem mais rapidamente, mas sendo idêntica à planta mãe é susceptível ás mesmas doenças.
 Em cima um cacho de bananeira. Da parte inferior sai um pendão e, no extremo, um cone de variada cor que é a flor da bananeira e que, para quem a sabe tratar, é comestível.
 
Fotos de setembro de 2012.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

LIRIODENDRON TULIPIFERA (ÁRVORE-da-TÚLIPA, LIRIODENDRO )


Quando em setembro passado, na Andaluzia,  fotografei o liriodendro das duas fotografias que seguem, estava longe de o associar à flor que reproduzo acima e que surge mais cedo no verão quando a árvore atinge os 12 a 15 anos de idade.  A flor tem a forma de túlipa, com 9 pétalas e cerca de 6 cm de comprimento. Algumas são de tom verde e amarelo-laranja na base. Na altura, pelo meio da folhagem, ainda se viam alguns frutos em tom acastanhado, em forma de cone e em pleno processo de amadurecimento. (ver 3ª foto)


Esta magnífica árvore da família das magnoliaceae pode alcançar os 30 metros de altura e é de folha caduca. Aqui a árvore é ainda muito jovem.


No outono, antes de caírem, as folhas que são simples e se dispõem alternadamente, tomam um tom amarelado e dão á árvore um outro momento de esplendor. É proveniente dos Estados Unidos da América onde predomina nos climas subtropical e temperado ou temperado de altitude. 



As primeira e última das fotografias foram extraídas da Wikipedia, file: Liriodendron tulipifera, jpg

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

ARAUCARIA (ARAUCÁRIA)


Na foto, a árvore é ainda demasiado jovem para impressionar pelo porte e altura. Mas se tudo lhe correr bem, daqui a uns 50 anos, altura em que continuará ainda jovem, nem dois homens conseguirão abraçá-la e para lhe tocar o cimo  terão que escalar algumas dezenas de metros.


A araucária exige sol pleno e um ambiente particularmente húmido para sobreviver. Por isso se adaptam ás condições atmosféricas das chamadas Ilhas da Bruma, no arquipélago dos Açores, onde a espécie a. heterophylla apresenta alguns exemplares classificados de monumento nacional. Humidade à parte, lamentavelmente, também não apreciam geadas...


A árvore desenvolve-se em forma de cone e apresenta perfeita simetria de ramos. Resiste bem á salinidade e aos ventos que normalmente assolam aquelas ilhas no inverno. Mas, claro, quando o temporal é particularmente forte, como tantas vezes sucede, há quase sempre a lamentar a queda de uma ou outra árvore da ordem dos 50 e mais metros de altura o que em zonas urbanas, onde embelezam praças e jardins, é sempre perigoso. Por isso não devem ser plantadas próximo das edificações até por causa das raízes que se espalham largo, mas ainda porque se defendem dos ventos fortes soltando ramos que podem depois reconstituir a partir do tronco. A folhagem nova e a adulta são diferentes, o que lhe acrescenta graça. 
 
Fotos de agosto de 2012, na Torreira.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

TAPETES MÁGICOS


Do tear na Casa das Tecedeiras, em Janeiro de Cima, saem devagar, lindos tapetes de fitas em que as combinações de cores não mais serão fruto do acaso mas resultam antes de escolhas amadurecidas em que se casam tradição e modernidade, artesanato e "design".

Foto de junho de 2012.

domingo, 7 de outubro de 2012

OENOTHERA SPECIOSA


Quantos cuidados para obter uma flor e subitamente deparamo-nos no quintal (sim, no quintal, imaginem!) com esta preciosidade que não semeámos. Foram as aves, foi o vento?


Da família das onagraceas, com quatro sépalas parcialmente fundidas e quatro pétalas nas cores branca, amarela ou rosa-púrpura, muito perfumadas e abrem ao início da manhã, oito estames  com filetes e antera muito destacados e vistosos.
 
Fotos de 1 de setembro de 2012, no quintal.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

COSMOS NO QUINTAL


Há cosmos simultâneamente no jardim e no quintal. No jardim é o que há de mais habitual e o seu efeito é sempre acolhedor.


Mas no quintal o seu dom é ainda mais gratuito por inesperado.


Já foi tempo em que no jardim também havia espaço para uma ou outra couve (que com o mimo raiavam a lua) e o primeiro morangal fi-lo também no jardim.  Depois, pareceu-nos aberrante (e politicamente incorrecta) a mistura e acabámos por desistir.

Agora, flores simples no quintal (de preferência muitas), um ou outro arbusto decorativo, trepadeiras, só podem valorizar a vizinhança das hortaliças e quejandos. Para mim  foi uma iniciativa recente e bem sucedida a repetir.
 
Fotos de ontem no quintal.