terça-feira, 11 de dezembro de 2012

TECELAGEM MANUAL e POESIA




A minha casa é concha. Como os bichos

Segreguei-a de mim com paciência:

Fachada de marés, a sonho e lixos,

O horto e os muros só areia e ausência.




Minha casa sou eu e os meus caprichos.

O orgulho carregado de inocência

Se às vezes dá uma varanda, vence-a

O sal que os santos esboroou nos nichos.




E telhados de vidro, e escadarias

Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!

Lareira aberta ao vento, as salas frias.
 



A minha casa... Mas é outra a história:

Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,

Sentado numa pedra de memória.


Vitorino Nemésio, A concha.

Fotos: outono já adiantado de 2012. Tecido, apenas com as mãos, em macramé por Malema, com motivos florais pintados pela nossa vizinha e amiga Lurdes Carvalho.

Sem comentários:

Enviar um comentário