Viver na aldeia os anos da reforma. A horticultura e a jardinagem. Guardar a criação. Conhecer-se cuidando. Semear ainda. Partilhar os frutos.
terça-feira, 24 de dezembro de 2013
NACI - NATAL -1966 poesia de RUY CINATTI
Senhor, tu nasceste neste dia
e eu aqui estou,
nascido no mesmo dia.
Apetece-me brincar com as palhinhas
Pousar o dedo no boi, digo, no beiço,
no focinho do boi, senti-lo húmido
da língua que o lambe.
Depois levá-lo à boca para saber
a que sabe.
Lembrando o que há tanto tempo sucedeu,
quando um boi, um dia,
me lambeu a face,
de relance a boca.
Sal, apenas sal, queríamos nós.
O boi e eu.
Cloreto de sódio, símbolo
como aprendi no liceu.
Senhor, estamos tão sós
que até um boi nos valia.
Senhor, tu nasceste neste dia
e eu aqui estou
à espera me dês o sal
da tua boca.
O boi lambeu-me.
Obrigado, Senhor!
Ruy Cinatti, Obra Poética, INCM, Lx. 1992, p.208.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário