domingo, 15 de janeiro de 2012

BETA VULGARIS (BETERRABA), da forragem, à alimentação humana e ...à decoração.


O meu pai punha muita esperança na cultura da beterraba na nossa região porque entendia que os seus vários solos lhe eram propícios. Tinha larga experiência da cultura da beterraba forrageira, (branca sobretudo, mas igualmente doutras) a única que aqui se praticava aplicada (crua ou cozida) quer na criação de porcos, como no sustento dos bois ou caprinos. Mas entendia que por identidade de razão, a cultura da beterraba sacarina haveria de resultar igualmente bem. Ponto era que o estado favorecesse a instalação aqui perto da fábrica transformadora ou, pelo menos, que não se situasse demasiado longe.

Faleceu sem ter visto concretizado o seu sonho. Só em 1997, em Coruche, viria a ser instalada a fábrica transformadora que não chegou a laborar mais de meia dúzia de anos. Não por falta de matéria prima ou de rentabilidade mas porque a C.E. decidiu diminuir a produção europeia de açúcar de beterraba e o estado português deixou ser qualificado como grande produtor com a consequente diminuição de quota e...na prática a inviabilização total da fabricação e, pois, da cultura. 

Durante mais algum tempo ainda se fez a criação de porcos no modo tradicional e a cultura da beterraba (como de outras leguminosas empregues na alimentação dos animais, teve ainda continuidade. Não tardaram as medidas higiénicas e de saúde pública da mesma C.E. a imporem restrições com carácter retroactivo aos pequenos criadores desde currais do gado á exclusividade do abate em certos locais com as inerentes despesas de transporte e taxas de abate, entre outras. Foi a machadada final. Adeus beterraba. Agora o burguês motorizado da alta e média cilindragem delicia-se com as carcaças congeladas de leitão (assadas à nossa maneira, não é?) vindas da Espanha, França, Alemanha e Polónia. Bom apetite!
N.B. Também há carcaças portuguesas...criadas com rações importadas idênticas às usadas nas pocilgas industriais polacas, alemãs, francesas ou espanholas. Mas não se incomode. Não dará pela diferença.

Por mim, que não faço criação animal, continuo desde há anos, a apostar num pequeno talhão de beterraba. A variedade é obviamente outra que não a forrageira. Usamos apenas as folhas como as de qualquer outro legume, em magníficas sopas macias, esparregados, etc. (Segunda foto a contar de cima). Este ano vou experimentar ainda  a vermelha para aproveitamento da raiz carnuda. Sementeiras a efectuar a partir de Abril até Maio.
Surpreendentemente tenho visto em França (na terceira foto a contar de cima, a variedade "Ruby Chard") larga aplicação de beterraba na decoração de jardins (Bette á cardes ou Blettes ou Poirée à carde rouge), com efeitos inesperados. Será esse o destino final das nossas beterrabas: distrair turistas. Quanto à componente alimentar da beterraba poderá sempre optar, em plástico ou lata, pela loja do tio Belmiro onde os rótulos incluirão obrigatória e patrioticamente um resumo em português de Malaca.

A primeira e a última das fotos foram importadas da Vikipédia.

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