terça-feira, 27 de setembro de 2011

O espaço público domesticado o problema da habitação


Poderia ser um  espaço privado, o pátio ou uma parte do jardim da casa mas não é. Sendo espaço público, poderia ser noutra cidade mais uma praceta atravancada com estacionamento de viaturas. 


Abrantes, centro histórico. "a humanização do habitar" (habitar com um sentido amplo e verdadeiro de espaço desejavelmente habitável), Arqº António Batista Coelho in Infohabitar, Ano VII, nº 362.


Compromisso. Chapas descartáveis dos automóveis produzidos em série e cada vez mais por robôs - obviamente não pertencem ali - mas também jardim, sinal vivo da  efectiva ocupação habitada dos edifícios. A cor verde das portas, o amarelo que bordeja os edifícios e o branco cor de fundo reflectem confortavelmente a natureza que se torna  mundo próximo, convivial, familiar, através dos símbolos partilhados: jardim por floresta, calor e brilho do "solinho" em vez de inferno solar. "A habitação que está também na rua e está também na praça, e as deve marcar subtilmente, e se não estiver é porque não se está a habitar a cidade e não se estando a habitar a cidade estão a criar-se problemas que, tal como uma doença não tratada, irá piorar e mesmo quando remediada, depois de se ter desenvolvido de forma crítica, deixa, frequentemente, sequelas graves." Doutor Arqº António Batista Coelho, Sobre a humanização do habitar: algumas notas gerais. Infohabitar - revista do grupo habitar, nº cit.


Uma frágil planta em vaso pontua o espaço interdito à circulação sobre rodas. Pequena e bela. Em torno dos temas relativos à habitação humanizada foi muito útil e agradável a consulta da excelente Revista citada, disponível no "site" infohabitar.blogspot coordenada por aquele reputado arquitecto.

1 comentário:

  1. "Oh as casas as casas as casas


    Oh as casas as casas as casas
    as casas nascem vivem e morrem
    Enquanto vivas distinguem-se umas das outras
    distinguem-se designadamente pelo cheiro
    variam até de sala pra sala
    As casas que eu fazia em pequeno
    onde estarei eu hoje em pequeno?
    Onde estarei aliás eu dos versos daqui a pouco?
    Terei eu casa onde reter tudo isto
    ou serei sempre somente esta instabilidade?
    As casas essas parecem estáveis
    mas são tão frágeis as pobres casas
    Oh as casas as casas as casas
    mudas testemunhas da vida
    elas morrem não só ao ser demolidas
    Elas morrem com a morte das pessoas
    As casas de fora olham-nos pelas janelas
    Não sabem nada de casas os construtores
    os senhorios os procuradores
    Os ricos vivem nos seus palácios
    mas a casa dos pobres é todo o mundo
    os pobres sim têm o conhecimento das casas
    os pobres esses conhecem tudo
    Eu amei as casas os recantos das casas
    Visitei casas apalpei casas
    Só as casas explicam que exista
    uma palavra como intimidade
    Sem casas não haveria ruas
    as ruas onde passamos pelos outros
    mas passamos principalmente por nós
    Na casa nasci e hei-de morrer
    na casa sofri convivi amei
    na casa atravessei as estações
    Respirei – ó vida simples problema de respiração
    Oh as casas as casas as casas!"

    Ruy Belo
    O Problema da Habitação

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