Às vistosas trombetas em vermelho-alaranjado, seus caules enleiados entre si e apoiados em discretos suportes pregados na parede, sua folhagem quieta suspensa das horas quentes do alto estio ou acenando levemente com a aragem fresca dos fins de tarde que precedem as vindimas, associo a distinção serena dos antigos donos da Quinta que as trouxeram para junto das mais comuns ipomeias. Associação arbitrária, já se vê!
Sucedeu que na aldeia situada em zona de pedra calcária e de inúmeras cerâmicas do barro vermelho, uma muito pragmática entidade pública amante da modernidade, demoliu a emblemática Casa e em seu lugar edificou em estilo cubo + vidro + alumínio + painéis de fachada. Nada tenho contra o estilo que só ganharia se conjugado com as centenárias e muito vernáculas construções.
Ao revisitar a Campsis ou o que dela resta, pareceu-me mutilada ela própria pela inconsequente demolição. Expressão de bom gosto, fora eleita num tempo em que era rara fora dos jardins botânicos. De algum modo, uma vez plantada, parecia partilhar da serenidade e simplicidade da casa. Certo é que as condições de vida proporcionadas pelo resguardo da parede da escada encostada à fachada nascente e do muro de vedação a norte com sol quanto baste, solo arenoso e humidade, permaneceram idênticas por largas décadas. Agora muito mais exposta, a campsis irá continuar a adaptar-se ou entrará em perda irreversível de energia.
No entanto, continua linda: há flores novas e outras estão prometidas. Vejam-se os cálices arredondados com 5 lóbulos onde se inserem as corolas de forma campanulada compostas de 5 pétalas fundidas em tubo que termina superiormente com os conhecidos lábios voltados para fora de modo a patentearem as estruturas reprodutivas. Estas flores são riquíssimas em néctar e parecem adaptadas aos bicos fundos dos beija-flores ou colibris. Estames, anteras e estiletes e estigmas estão colocados de modo que a cabeça do pássaro as roce cobrindo-se de pólen que transportará de flor em flor. Não há beija-flores por aqui. Mas há muitos outros apreciadores de néctar, nomeadamente formigas e abelhas, que têm de encontrar outros expedientes para a recolha da substância adocicada, aparentemente sem vantagem para a polinização. Nada é perfeito. Ainda assim a campsis não desiste.
Fotos de Junho de 2014, na aldeia.
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