quarta-feira, 27 de março de 2013

CERINTHE MAJOR (FLOR-MEL)

 
Protegidos pelas matas de pinhais e eucaliptais que se erguem na colina a sudoeste, estendem-se os vinhedos. Encostas voltadas a nascente em suave declive, aqui e além aplanadas pela natural erosão e pelos trabalhos de surriba de gerações, balizam o largo vale fronteiro ás serranias do Caramulo e Buçaco que desce para a bacia do Vouga. Estamos nos limites  poente dos campos da aldeia onde subimos, aproveitando um inesperado intervalo de chuvas, em passeio de tarde de domingo.  Aqui o solo é argilo-calcário, com elevada capacidade de retenção de água. Os caminhos enlameados obrigam a uma gincana nem sempre bem sucedida.


Á entrada da primavera, os campos vestem-se de herbáceas floridas que os lavradores oportunamente farão remover mobilizando os solos ou espalhando os temíveis herbicidas. De momento estão de tal modo encharcados  que nem as máquinas lá conseguem entrar. Mas com ou sem remoção das infestantes sempre hão-de sobrar sementes que garantem que para os anos próximos lá estarão de novo.


Não são obrigatoriamente as mesmas. Desta vez, surpreendido, onde antes encontrava a borragem deparo-me agora com a flor-mel. A flor-mel não se apresenta com a altura e porte da borragem e não é ramificada como esta. Ao contrário, as suas folhas e flores são discretas e algo tristes. Certo é que ambas são borraginaceae. Como tal, muito procuradas pelos seus néctares e pólens.

A folha é carnuda, verde-clara ou cinzenta-esverdeada, com reflexos brancos. Na base são espatuladas, ovobadas e de pecíolo curto. As de cima, desprovidas de pecíolo, abraçam o caule. Envolvendo as flores há estruturas foliares que as protegem. Têm cor, forma e textura semelhante ás pétalas mas são, apenas, folhas modificadas, chamadas brácteas. 


À medida que a planta cresce, as brácteas vão alterando a cor de verde para púrpura e depois para azul brilhante. Nas fotos ainda se mostram em verde.
 
A flor é perfumada e muito procurada pelas abelhas melíferas.  As flores voltadas para o solo, surgem em tons de azul-púrpura a violeta. São longas, de corola tubulosa  com cinco pétalas soldadas, cinco estames de cor amarela e anteras negras. A disposição dos estames limita o acesso aos insectos polinizadores que ao forçarem a entrada até ao néctar, são obrigadas a roçar o corpo pelo interior das corolas, assim se carregando de pólen.
 
A planta pode ser cultivada em vasos. Espero colher algumas sementes para o jardim. Tons de azul nunca são demais!
 
Uma vez instalada toma a seu cargo a sementeira. Resiste bem á seca mas, no tempo quente, espera que a brindem com água.
 
Fotos de domingo passado, nos vinhedos em torno da aldeia.


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