Porque é que as chuvas de primavera podem, afinal, ser aliadas dos caminhantes?
São dez horas duma manhã de Abril, na praia fluvial do Areinho na margem esquerda do rio Paiva, a 15 Km de Arouca e a 5 de Alvarenga. Céu limpo e temperatura do ar de 10 graus centígrados. Início de uma caminhada aproximadamente de nove quilómetros (lineares) até Espiunca. Esperam-nos desníveis acumulados de cerca de trezentos metros.
O rio é o fio condutor. A nascente fica bem longe, na serra do Leomil. O majestoso caudal de águas quase imaculadas - verdadeiro achado - permite avistar os fundos graníticos quando não se envolve com os afloramentos rochosos descendo em torrente poderosa e agitada. Aí o espelho que devolve os tons das margens e do céu em matizes mais escuros volta-se, indistinto, em turbilhão cristalino. Sons da mais repousante e agradável melodia, refletidos pelas paredes íngremes das encostas que desenham o vale, envolvem-nos em todo o percurso. Nos rápidos ampliam-se. Não, não é efabulação! Nesta altura do ano, mercê da persistência das chuvas, esse efeito é bem real e permanente.
Começamos a avistar os três arcos em cantaria da ponte de Alvarenga, de cerca de 20 metros de altura até à superfície das águas, obra concluída ainda no séc. XVIII. Cruzaremos a estrada. A verdadeira caminhada começará então. Daí para a frente há que vencer um acentuado desnível até às alturas, perto da Garganta do Paiva. Felizmente não há calor, não chove, o rio corre volumoso (não vai correr assim todo o ano!), à volta a serra veste-se com um novo manto verde e até já há florações em árvores como o pinheiro e nalgumas herbáceas, exemplo as abróteas (asphodelus) e arbustos como o tojo (ulex).
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