Tinha cortado a relva na véspera com as lâminas ao nível mais baixo, algo de improvável para a última semana de Outubro. Na manhã seguinte, o caule alaranjado e castanho-escuro do mutinus, um efémero fungo da família das Faláceas que surge todos os anos por esta altura, contrastava com o verde do relvado. Tem a forma de um pequeno corno, que estreita da base para o ápice. E uma noite basta para desencadear o processo de enchimento das células com água que o faz emergir do aparelho esporífero semi-enterrado e logo alcançar cerca de 6 cm de altura.
O corpo desse aparelho é formado por uma rede de hifas que compõem o micélio. Este decompõe o solo com vantagem para o relvado que, deste modo, consegue um suplemento de nutrientes mais acessível à absorção pelas raízes. Curiosamente, ao contrário dos demais, este cogumelo parece preferir a exposição ao sol. Depois, até um certo limite, também aprecia o calor ainda tépido dos finais de Outubro e finalmente, a humidade trazida pelas chuvas outonais e um solo acidulado e recoberto de folhas secas.
O caule está mais direccionado para a reprodução. É muito fino, poroso e alveolado. Por vezes surge recurvado. Na base apresenta uma cinta esbranquiçada que o une ao "ovo" de onde saiu. O seu terço final apresenta-se coberto por uma massa fina e gelatinosa de odor forte e desagradável, barrada de esporos, que repele borboletas e abelhas mas atrai moscas e outros insectos que dele recolhem alimento e, através do aparelho bucal e das patas, acabam colaborando na dispersão dos esporos.
Fotografias ampliadas só são possíveis se tiradas de muito perto. Não fora o muito experimentado exercício de apneia e teria sucumbido ao pestilento odor libertado pela gleba madura, sensível para nós até a mais de um metro de distância. No entanto, este cogumelo tem a capacidade de decompor madeira velha e ervas secas onde podem localizar-se organismos patogénicos cujo desenvolvimento inibe. Também por isso e pelas cores vivas (elegans) e forma caprichosa (mutinus=rebelde) os deixo viver a sua vida breve, esperando que continuem a surpreender-me.
Fotos de 28 de Outubro de 2014, no jardim.
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