domingo, 28 de julho de 2013

CLEMATIS CAMPANIFLORA (VIDE-BRANCA) e o FREIXAL


A vide-branca é uma liana que alcança quatro e mais metros de comprimento. Conhecida universalmente por "portuguese clematis", é planta espontânea e perene da família das ranunculaceae que prefere solos ácidos e suporta bem a secura. Abunda em terrenos incultos do sítio do Freixal, no limite da aldeia. Os seus caules finos apoiam-se nas plantas vizinhas, silvas na maior parte, e com elas disputa a ocupação do solo. Juntas formam uma vegetação de tal maneira densa que, diria, impenetrável.


A clematites também é cultivável em jardim e usada na decoração de divisórias e muros. 

As flores, solitárias, campanuladas e pendentes para o solo, apresentam quatro tépalas brancas e tons violáceos. São suavemente perfumadas. 

Folhas opostas, inteiras ou compostas, trifoliadas.


A propósito: o Freixal está avassalador. À superfície parecia amigável, aparentemente domesticado pela força persistente de gerações e gerações de homens e mulheres que nele investiram sangue, suor e lágrimas em troca de regateado e nunca garantido sustento.  Foram arroteadas as terras, rasgadas valas e regueiras, fixadas as regras do uso da água e as obrigações de limpeza dos respectivos leitos, abertos poços, aplicadas cegonhas ou engenhos, construídas as pontes, represas e moinhos de água, lavrado ou cavado o solo duro como rocha. A experiência e os resultados da longa  reflexão permitiram conviver com regularidades e extremos do meio-ambiente. Alcançou-se assim um patamar de um certo equilíbrio e previsibilidade quer quanto ao comportamento do mundo natural como o dos homens em rija competição. Foi um jardim. Mas hoje, o progressivo abandono  permite ver claro: para além de toda a aparência o Freixal é parte de um todo indomável que o contínuo de posse e propriedade mal beliscaram. Sim, foi ele o domesticador de gerações que no confronto com a terra se recriaram homens e mulheres de forte carácter. Nele beberam a vida. Sobrevivem poucos que parece terem por missão tão só retardar o avanço da natureza. No entanto, os Freixais permanecem potencialmente ricos, quase incólumes, desafiantes esperando opositores à altura.  


Acaso são estes
os sítios formosos,
aonde passava
os anos gostosos?
São estes os prados,
aonde brincava,
enquanto pastava
o manso rebanho,
que Alceu me deixou?
             São estes os sítios?
             São estes; mas eu
             o mesmo não sou.
             Marília, tu chamas?
             Espera, que eu vou.

(...)

A poesia é de Tomás António Gonzaga, Marília de Dirceu e Mais Poesias, Prefácio e Notas M. Rodrigues Lapa, Sá da Costa Editora, Lisboa, 2008, pag. 31-32. 

Fotos de julho de 2013, no Freixial.

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