quinta-feira, 5 de março de 2015

À ESCALA de LILLIPUT


Últimos dias do passado Fevereiro. Céu carregado de nuvens, ameaçando chuva. Sopra uma aragem muito fria. Ainda assim, continuamos - a minha mulher e eu - subindo a encosta desde o vale do Arouce em direcção à Ermida de Nossa Senhora da Piedade. O acesso foi sendo escavado na rocha pelo menos desde os séculos XIII e XIV, época da construção da maior das capelas - a capela de S. João. Ladeiam-no formações de xisto onde às vezes conseguem instalar-se espécies do género Quercus, como o carvalho alvarinho, o carvalho negral e o sobreiro. Mas a minha atenção, pela manifesta exuberância, foca-se em espécies de um mundo de outra escala: musgos, líquenes e  algas terrestres. 


Vou registando. Até que sou conduzido à vista de um pequeno patamar, apenas acessível até aos bordos. Ali, a novidade é o inesperado da cor quente de uma flor sobre o fundo de incontáveis tonalidades de verde. Por largos momentos esqueço os musgos.


Que planta e que flor! Em pleno inverno, no alto de um monte batido pelos ventos bem frios e, às vezes, também pela neve, instalada sobre a rocha contando apenas com a humidade atmosférica e com a que os musgos conseguem reter. 
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Flor e o caule não são tudo. Malgrado os esforços não consegui registar as folhas ao nível da base. Apenas com estes dados, até onde pode avançar o leigo na identificação da planta? À partida, diria, "ranunculus". Mas a flor do "ranunculus" mostra-se de 5 pétalas, o que não é manifestamente o caso. Ranúnculo de 7 pétalas? Não é impossível. 


Resta-me o apelo aos possíveis leitores que, por generosidade, queiram dar o seu contributo. Aqui deixo, desde já, o meu muito obrigado.

4 comentários:

  1. Olá, Vitor
    Não haverá alguns ranunculus com mais pétalas?
    O Ranunculus nigrescens Freyn parece ter com cinco e com mais…
    Espreite o site do blog http://obotanicoaprendiznaterradosespantos.blogspot.pt/2013/05/ranunculus-nigrescens.html
    Jinho

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    1. Bom dia, Teresa!
      A sua ajuda é preciosa e, parece-me, aproxima-se mais do alvo do que eu tinha conseguido. E é sobretudo muito amiga. Obrigado. Tenho de confessar, no entanto, que ainda subsistem dúvidas: cor, brilho, forma, número e textura das pétalas; tamanho, secção, curvatura da haste floral. Preciso de voltar a ver a planta e, de preferência, em local acessível. Do meu conhecimento não haverá por aqui qualquer exemplar. Irei continuar a procura quando voltar à Serra da Lousã. . Muito obrigado. Beijinhos, Vítor.

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  2. Sugiro que faça uma pesquisa por "ranunculus ollissiponensis". Ou então consulte o site Flora-On onde pode encontrar todo o tipo de ranunculos existentes no nosso país e a sua epoca de floraçao. Tem muitas imagens de fácil identificaçao muito uteis para quem se interessa por estas coisas da natureza!

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    1. Muito obrigado pela sua sugestão que segui com proveito. Há de facto muitas semelhanças com a variedade que indicou. Mas impressiona-me que o longo caule da planta das fotos que acima publiquei, ao contrário dos que vejo nas imagens das ranunculáceas em geral, seja mais ou menos pendente. Estas aparentam firmeza e são quase sempre erectas. As pétalas também se mostram bem menos consistentes, de forma mais ondulada e de um amarelo menos vivo e muito menos brilhante. As folhas parecem inteiras. Daí não me sentir ainda seguro para uma conclusão sobre a identificação da planta. Tenho finalmente que admitir que pesem embora as semelhanças, não se trate propriamente de uma ranunculácea. Claro que preferimos alcançar certezas e que elas surjam o mais cedo possível. Mas a procura também dá prazer. E muitíssimo mais quando partilhada como é o caso de Carmo Fernandes a quem agradeço muito a atenção da colaboração amiga que prestou. Os meus cumprimentos e volte sempre. Vítor Maia

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