Seguíamos alegremente de bicicleta, encurtando caminho pelos trilhos estreitos do pequeno bosque de pinhal e mato. Era inverno e a primeira aula tinha início às 9 horas da manhã. As geadas eram frequentes. Mobilizado o parco roupeiro, o frio não nos apanhava de moral sofrida. Cedo aprendemos a tirar partido das condições de tempo. E como não reparar nas modificações da paisagem? Geralmente distraídos, não ficávamos indiferentes às composições das teias de aranha evidenciadas pelo brilho das contas de orvalho. Não: não víamos nelas as armadilhas discretas, obra de caçadores sinistros e implacáveis. Era a complexidade e simetria das formas e o surpreendente enfeite de pérolas que despertava a atenção.
Hoje, à mesma hora matutina, não me aventurarei para além dos limites do jardim.
Não encontrarei a sofisticação da rede de armadilhas capazes de deter um besouro em pleno voo sem danos irreparáveis. Mas o solo saturado das chuvas de há dias, vai libertando a água, sob a forma de vapor de água. Restos de madeira também impregnados de humidade pela exposição ao tempo, são um suporte possível.
As temperaturas abaixo dos zero graus centígrados e uma imperceptível aragem modelam cristais brancos da geada.
Demasiado efémeras, cedo se diluirão com a incidência directa dos primeiros raios de sol. Labirinto de formas: qual a chave?
Fotos de 5 de Fevereiro de 2015.
Primeiro tem que se saber se há porta de saída (pode estar inacessível). "Sou um labirinto em busca de uma porta de saída" - Vinícius de Moraes.
ResponderEliminarDepois, talvez valha a pena encontrar a chave… Que, como diz, poderá ser um raio de sol.
Jinho
MARIA HELENA VIEIRA DA SILVA
EliminarOU O ITINERÁRIO INELUTÁVEL
Minúcia é o labirinto muro por muro
Pedra contra pedra livro sobre livro
Rua após rua escada após escada
Se faz e se desfaz o labirinto
Palácio é o labirinto e nele
Se multiplicam as salas e cintilam
Os quartos de Babel roucos e vermelhos
Passado é o labirinto: seus jardins afloram
E do fundo da memória sobem as escadas
Encruzilhada é o labirinto e antro e gruta
Biblioteca rede inventário colmeia –
Itinerário é o labirinto
Como o subir dum astro inelutável –
Mas aquele que o percorre não encontra
Toiro nenhum solar nem sol nem lua
Mas só o vidro sucessivo do vazio
E um brilho de azulejos íman frio
Onde os espelhos devoram as imagens
Exauridos pelo labirinto caminhamos
Na minúcia da busca na atenção da busca
Na luz mutável: de quadrado em quadrado
Encontramos desvios redes e castelos
Torres de vidro corredores de espanto
Mas um dia emergiremos e as cidades
Da equidade mostrarão seu branco
Sua cal sua aurora seu prodígio.
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
Obra Poética III. 4ª Ed. Lisboa: Editorial Caminho.
c/ beijinhos, Vítor.
A verdade é que a geada tem a sua beleza. Transforma plantas, terra, galhos, em esculturas de rara beleza. E só este ano é que me apercebi realmente disso. Talvez por já ter geado tanto...
ResponderEliminarGostei muito das fotos, apanhou bem essas esculturas geladas :)
Bom fim de semana!
Celebrar a beleza, nem sempre acontece. Como tudo na vida, requer condições. De entre elas há uma condição necessária: abertura, sensibilidade, acolhimento do valor da beleza. Afinal, gostar (como o odiar) também se aprende. Agradeço a visita. Volte sempre. Cumprimentos, vítor.
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