A aragem cada vez mais fresca convida ao regresso a casa encurtando uma tarde de finais de maio que se esperaria no modo de verão antecipado. Hesitamos. A nascente o horizonte é vasto. De norte para sul alinham-se Caramulo, Buçaco e Lousã. Ao longe, nas serranias, as vagas manchas florestais de pinheiros e eucaliptos. Indiscerníveis quase, encostas e vales que guardam os ocultos povoados com as hortas que os sustentam. Quase ao alcance das mãos, os extensos vinhedos, os sinuosos caminhos de rios e ribeiras bordejados de freixos e amieiros e os campos de choupos onde até há pouco cresciam legumes e pastos.
Estamos na orla da floresta verde de pinheiros e eucaliptos a poente de onde regressamos.
E, no entanto é sobretudo para o chão em volta que insistimos em olhar. Já tínhamos observado as vistosas anacamptis. Agora percorremos palmo a palmo as bermas intactas do caminho que segue na direcção sul em patamar talhado na encosta. Por entre um mar de herbáceas onde abundam os cardos (do outro lado da estrada é o sítio da Cardosa) encontramos finalmente as sofisticadas mas discretas ophrys. Anotamos as variações. Fotografamos.
Para um leigo admirador de orquídeas, é natural relacionar estas plantas com ambientes tropicais onde crescem agarradas ás árvores em busca de luz. Mas estas orquídeas selvagens em zona de influência mediterrânica, estão em casa e bem implantadas no solo calcário.
E, no entanto é sobretudo para o chão em volta que insistimos em olhar. Já tínhamos observado as vistosas anacamptis. Agora percorremos palmo a palmo as bermas intactas do caminho que segue na direcção sul em patamar talhado na encosta. Por entre um mar de herbáceas onde abundam os cardos (do outro lado da estrada é o sítio da Cardosa) encontramos finalmente as sofisticadas mas discretas ophrys. Anotamos as variações. Fotografamos.
Para um leigo admirador de orquídeas, é natural relacionar estas plantas com ambientes tropicais onde crescem agarradas ás árvores em busca de luz. Mas estas orquídeas selvagens em zona de influência mediterrânica, estão em casa e bem implantadas no solo calcário.
As flores da ophrys são algo complexas com destaque para o aveludado labelo, uma pétala modificada em forma de U em castanho-violácio que imita o abdómen de uma abelha e exala odores familiares a certos himenópteros (abelhas e vespas, entre outros).
Com tais estímulos, o insecto macho é induzido a tentar a cópula (pseudo-cópula). Desse modo acabará por transportar políneas (massa cerosa composta de grãos de pólen e uma substância viscosa) e visitando outras flores acabará por provocar a polinização.
Tal grau de sofisticação num ambiente aparentemente tão prosaico é paradoxal. Abandonamos o sítio. Descemos a pé percorrendo nalgumas dezenas de metros as bermas da estrada. Vamos perdendo horizonte e a concentração diminui. Definitivamente: deixemos perdurar o sabor daquele encontro. Voltaremos.
Fotos de 26 de maio de 2013, na Cabreira, limite da aldeia.