Paisagem
Passavam pelo ar aves repentinas,
O cheiro da terra era fundo e amargo,
E ao longe as cavalgadas do mar largo
Sacudiam na areia as suas crinas.
Era o céu azul, o campo verde, a terra escura,
Era a carne das árvores elástica e dura,
Eram as gotas de sangue da resina
E as folhas em que a luz se descombina.
Eram os caminhos num ir lento,
Eram as mãos profundas do vento
Era o livre e luminoso chamamento
Da asa dos espaços fugitiva.
Eram os pinheirais onde o céu poisa,
Era o peso e era a cor de cada coisa,
A sua quietude, secretamente viva,
E a sua exalação afirmativa.
Cuja voz, quando se quebra, sobe,
Era o regresso sem fim e a claridade
Das praias onde a direito o vento corre.
Sophia de Mello Breyner Andresen, Poesia 1944.
Fotos: viajar para outros horizontes, através da sensibilidade-gentileza da JM. Muito obrigado. Beijinhos grandes.
E as minhas desculpas aos leitores pelas "quebras" na apresentação do poema que, como é evidente, foi escrito com unidade formal.
E as minhas desculpas aos leitores pelas "quebras" na apresentação do poema que, como é evidente, foi escrito com unidade formal.
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