Poderia ser um espaço privado, o pátio ou uma parte do jardim da casa mas não é. Sendo espaço público, poderia ser noutra cidade mais uma praceta atravancada com estacionamento de viaturas.
Abrantes, centro histórico. "a humanização do habitar" (habitar com um sentido amplo e verdadeiro de espaço desejavelmente habitável), Arqº António Batista Coelho in Infohabitar, Ano VII, nº 362.
Compromisso. Chapas descartáveis dos automóveis produzidos em série e cada vez mais por robôs - obviamente não pertencem ali - mas também jardim, sinal vivo da efectiva ocupação habitada dos edifícios. A cor verde das portas, o amarelo que bordeja os edifícios e o branco cor de fundo reflectem confortavelmente a natureza que se torna mundo próximo, convivial, familiar, através dos símbolos partilhados: jardim por floresta, calor e brilho do "solinho" em vez de inferno solar. "A habitação que está também na rua e está também na praça, e as deve marcar subtilmente, e se não estiver é porque não se está a habitar a cidade e não se estando a habitar a cidade estão a criar-se problemas que, tal como uma doença não tratada, irá piorar e mesmo quando remediada, depois de se ter desenvolvido de forma crítica, deixa, frequentemente, sequelas graves." Doutor Arqº António Batista Coelho, Sobre a humanização do habitar: algumas notas gerais. Infohabitar - revista do grupo habitar, nº cit.
Uma frágil planta em vaso pontua o espaço interdito à circulação sobre rodas. Pequena e bela. Em torno dos temas relativos à habitação humanizada foi muito útil e agradável a consulta da excelente Revista citada, disponível no "site" infohabitar.blogspot coordenada por aquele reputado arquitecto.
"Oh as casas as casas as casas
ResponderEliminarOh as casas as casas as casas
as casas nascem vivem e morrem
Enquanto vivas distinguem-se umas das outras
distinguem-se designadamente pelo cheiro
variam até de sala pra sala
As casas que eu fazia em pequeno
onde estarei eu hoje em pequeno?
Onde estarei aliás eu dos versos daqui a pouco?
Terei eu casa onde reter tudo isto
ou serei sempre somente esta instabilidade?
As casas essas parecem estáveis
mas são tão frágeis as pobres casas
Oh as casas as casas as casas
mudas testemunhas da vida
elas morrem não só ao ser demolidas
Elas morrem com a morte das pessoas
As casas de fora olham-nos pelas janelas
Não sabem nada de casas os construtores
os senhorios os procuradores
Os ricos vivem nos seus palácios
mas a casa dos pobres é todo o mundo
os pobres sim têm o conhecimento das casas
os pobres esses conhecem tudo
Eu amei as casas os recantos das casas
Visitei casas apalpei casas
Só as casas explicam que exista
uma palavra como intimidade
Sem casas não haveria ruas
as ruas onde passamos pelos outros
mas passamos principalmente por nós
Na casa nasci e hei-de morrer
na casa sofri convivi amei
na casa atravessei as estações
Respirei – ó vida simples problema de respiração
Oh as casas as casas as casas!"
Ruy Belo
O Problema da Habitação