segunda-feira, 16 de maio de 2011

MADRESSILVA


Na orla das Cardosas há, desde tempos que excedem a memória dos vivos, uma sebe de plantas nativas que seguram as terras dos patamares superiores.  Um pinheiro manso pontuava um contínuo de vinhedos. Os nossos melhores vinhos saiam invariavelmente dessa encosta de barro cinzento. Das minhas mais antigas memórias estão imagens do brincar à sombra do pinheiro, recolhendo pinhões, coleccionando amonites, fósseis que ali se oferecem abundantes. 
Mas, tão exóticos quanto estes eram para mim, entre tantos arbustos fragrantes, as roseiras primárias e as madressilvas. De tal maneira estão adaptados ao solo, à altitude e ao clima que dificilmente trocam a austeridade deste meio natural por um qualquer outro local artificialmente criado, ainda que amparado pelo melhor jardineiro.   
Para nosso prazer, temos há largos anos no jardim e bem à porta de casa, uma madressilva. As suas flores não são, é certo, tão perfumadas quanto as da Cardosa. Não quereria tanto. Mas ainda assim os seus tubos cor-de-rosa abertos por pequenas pétalas brancas exalando um perfume forte mas não menos subtil, evocam-me sempre os dias felizes que passei naquele ambiente natural.

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