Outubro, mês de abóboras. Noutros tempos - o tempo em que não se brincava em serviço - formas e sabores parecia resumirem-se a porqueiras e meninas (sem ofensa). Milhões de compatriotas não totalmente alheios a estas culturas, pasmavam com fenómenos do Entroncamento que por regra envolviam gigantismos e a quem já os bons burgueses da época (rurais e não rurais que fossem) prestavam um indisfarçável desdém no uso deliberadamente injurioso da expressão "cabeça-de-abóbora", como sinónimo de "estúpido" e, pasme-se, sem cuidar de, pelo menos, ressalvar a honrada abóbora-menina.
Agora - novo tempo de Epicuro - em que ao menor esforço se deve contrapor o maior prazer possível, o trabalho do quintal, para ser politicamente correcto, tem de ser simultâneamente divertido e os seus produtos leves ou ao menos proporcionados e sobretudo, degustáveis. (1) Percebe-se que sejam recomendados os quintais-jardim e neles as inevitáveis ervas aromáticas.
Quem pretender ser imune a modas que levante o dedo. Por mim mereço inteiramente estar incluído no "in" pois que só de ervas tenho, por exemplo, abundante salsa e ultimamente até rúcula. Mas, certamente por atavismo de que aqui publicamente me penitencio, deu-me para me aplicar também em cores e formas com que atinjo, não raro, o puro deleite e o mais inócuo e absurdo sentido empresarial. Lamentavelmente, sem cuidar, do tal sentido das proporções que justamente nos sujeita ao ridículo. (tive exemplares, imaginem, que por si só quase encheriam um carro-de-bois) (2)
Por hoje, fiquemos pelos muito decorativos turbantes-turcos, algumas cores e padrões deste ano. Vejamos semelhanças e diferenças entre si e com as primas cabaças e vulgares abóboras. Nomeadamente comparemos os pedúnculos, cilíndricos nestes turbantes e angulosos nas abóboras porqueiras (cucurbita pepo). E, dentro das c. maxima, comparemos no lado oposto aos pedúnculos, o número e padrão dos lóbulos.
Notável, não será? Um espanto, sem dúvida.
Anote-se que há muito boa gente que não negando a estética da embalagem, prefere degustar o miolo e dele dizer que tem a textura da farinha e é agradavelmente doce. Não sei o que disso diria o porco, caso falasse. Por mim, não confirmo nem desminto.
(1) Quantos complexos teriam sido evitados ás criancinhas desses tempos se oportunamente as mães tivessem desistido de lhes impor a violência (por exemplo) das sopas de hortaliças.
(2) A propósito, vem à memória aquele episódio vivido em que o professor mandou o aluno da 1ª classe da instrução primária que escrevesse um "a" no quadro negro da escola. E o aluno, com a ajuda do banquinho a que subiu, prontamente desenhou o "a", com a particularidade de que com ele ocupou praticamente todo o espaço do quadro. "O que é isso, Joaquim?"
- "Se o Senhor professor não vê bem, compre uns óculos!"
Como se vê, já nessa altura (idos de 40 do século passado) os mestres-pensadores se ocupavam em transmitir aos discípulos o sentido das proporções. Em vão, como se deixou ver.
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