No tempo quente, para recuperar o fôlego ou apenas para gozar de alguma frescura, procuro a sombra do mais que centenário muro divisório em pedra calcária, orientado no sentido nascente-poente e com cerca de três metros de altura. No estio, a maior parte da vegetação do muro está reduzida a algumas suculentas. Agora, o povoamento é variado.
A pedra aumenta a qualidade paisagística da divisória, pela cor, variedade das formas obtidas aleatoriamente a golpes de marreta ou de martelo, pela discreta argamassa das juntas, e pelo especial remate cimeiro orientador das escorrências das águas das chuvas. Vista mais de perto, revela ser também suporte e meio de vida do mundo vegetal.
No princípio ter-se-ia apresentado inteiramente limpo de elementos vegetais. Ficaria exposto á dinâmica do tempo (largos dias têm cem anos...!), nomeadamente a ventos que transportam ínfimas quantidades de pó da terra ou areias que se vão acumulando gradualmente e formam um solo superficial. Pioneiros na instalação são os líquenes, aderentes á pedra e que se bastam com a mais ínfima porção de substrato, depois os musgos. Resíduos de plantas antecedentes e outros produtos decorrentes da natural erosão da pedra, o CO2 do ar, a acção da água e da radiação solar, atraem a fauna interessada desde mosquitos vários a caracóis, lesmas ou lagartixas e mesmo ratos e pássaros, que vivos ou em decomposição, resultam em mais substrato. Nas fendas surgem colónias espontâneas de espécies mais complexas.
Procurando tirar partido do solo especialmente protegido pelo alto muro, tenho andado nos últimos dias a limpar o terreno próximo. Vai sobrando tempo para observar a especial flora de tão vetusta edificação.
Hoje, trago aqui algumas notas sobre uma planta agora florida e que habita o muro, com desenvolvimentos necessariamente diferentes consoante o nível de nutrientes disponíveis, entre 10 e 60 cm de altura. As espécies mais desenvolvidas situam-se perto da base, menos exposta e também mais húmida.
A Erva-roberta é aqui uma planta anual, da família das geraniáceas, de caules delgados, prostrados ou ascendentes, vilosos e avermelhados, intumescidos nos nós. Entre-nós de 3 a 5. As folhas são alternas, triangulares, palmadas, muito recortadas, odoríferas, de pecíolo longo, semelhantes ás da salsa.
As flores terminais e axilares, agrupam-se em cimeiras com pedúnculos de duas flores, 5 mm de diâmetro da corola e 5 mm de comprimento da flor contados desde a base do receptáculo, (bem mais pequenas do que as do g. robertianum), cinco pétalas, arredondadas no topo, cor-de-rosa-malva a violáceas, cada uma com tracinhos longitudinais mais escuros, dez estames com anteras amareladas. Pólen em amarelo. Floração entre março e junho. A literatura especializada diz ser a planta rica em flavonóides e taninos.
Fotos de 23 de abril de 2013, no quintal. A primeira, menos desenvolvida, situa-se no plano médio do muro e está mais próxima do tamanho real. As demais estão obviamente ampliadas.
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