sexta-feira, 29 de agosto de 2014

SCELIPHRON SPIRIFEX (VESPA-OLEIRA, BLACK YELLOW MUD DAUBER, PÉLOPÉE TOURNEUR, PICAPEDRERO, AVISPA ALFARERA)


Vespa solitária da Família Sphecidae, grande construtora de ninhos de argila e predadora de aracnídeos de várias espécies, não é visita que se deixe ver frequentemente no jardim e quintal. A fêmea escolhe um lugar sombrio para a edificação do ninho de uma ou mais células. Aí irá pôr um ovo por célula sobre as presas paralisadas mas vivas que previamente capturou. Seguidamente o ninho é selado com lama. Quando os ovos eclodem as larvas podem alimentar-se das prisioneiras que devoram. Hão-de metamorfosear em ninfas. O insecto perfeito rompe finalmente o ninho. Chega a haver três gerações por ano.


Antenas negras. O tórax é completamente negro-baço. Surpreendente o pecíolo do abdómen, tubo longo e fino de aspecto frágil, de cor totalmente amarela.  


Asas claras e transparentes. Patas longas, sobretudo as posteriores, negras com bandas em amarelo.


Não obstante o aspecto, é um insecto inofensivo que apenas poderá picar se o molestarem.
As fotos foram tiradas de manhã muito cedo, com a temperatura ainda fresca da madrugada e quando o animal se encontrava relativamente pouco activo. 

Fotos do início da semana, no jardim.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

CYNOGLOSSUM CRETICUM (LÍNGUA-de-CÃO, BLUE HOUND´S TONGUE, CYNOGLOSSE de CRÈTE, LENGUA de PERRO, LINGUA di CANE a fiori variegiate)


Este ano em Maio, com as temperaturas do ar em subida, os solos da Várzea ainda estavam saturados de água que escorria sem pressa pelas regueiras. O barro cor de cinza aderia impertinentemente aos sapatos, limitando a observação de perto ao que se podia ver dos passeios e taludes. 


Ainda assim, que riqueza de espécies vegetais!  


As boragináceas estão ali muito bem representadas. Desde as borragens que completaram mais cedo o ciclo de vida até às viperinas, não-me-esqueças e soagem que persistem florindo nesta altura do ano. 


No solo recente, perturbado, dos passeios inacabados ou encostadas aos silvados encontramos as Cynoglossum creticum, herbáceas floridas de caule robusto, erecto com cerca de 80 cm de altura e folhas alternas, acinzentadas, revestidas de pelos. Flores primeiramente rosadas, depois em azul-claro com veias reticuladas mais escuras em violeta ou púrpura de 5 sépalas, 5 pétalas arredondadas, corola afunilada, soldadas e 5 estames. A planta não é muito abundante nem as flores vistosas. Mas sobremaneira delicadas na forma, cores e textura, merecem sem dúvida que nelas demoremos a atenção.

Fotos de Maio, na Várzea, limite da aldeia.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

SORBUS LATIFOLIA (MOSTAJEIRO-de-folhas-largas, TREE of FONTAINEBLEAU, ALISIER de FONTAINEBLEAU)


Em Maio, regressados da Guarda, trouxemos aqui imagens de um sorbus em jardim público. Estas árvores, de folha composta, estavam então em flor: tratava-se da S. aucuparia. Hoje, também da Beira mas da ainda mais interior, voltamos com imagens de sorbus, agora de folha simples: o S. latifolia. 


Trata-se de uma árvore muito rústica, pouco exigente, muito decorativa aquando do outono e verdadeiramente emblemática da Beira Interior. Com excepção de algumas zonas de Trás-os-Montes é uma árvore muito difícil de encontrar fora deste meio-ambiente. Neste caso, ainda de porte arbustivo, foi fotografada nos finais de Julho pelos 700 m de altitude, na aldeia situada no concelho do Sabugal.


Como se vê os frutos ainda verdes semelhantes a pequenas maçãs eram abundantes. No outono ficarão maduros. Nessa altura estarão de cor amarelada, vermelha ou alaranjada e terão um sabor acidulado. Uma advertência bastante para evitar abusos na ingestão que, de outro modo, poderia ter consequências graves para a saúde especialmente das crianças. 


Perto estão as margens do rio Noémi com as frescas veigas onde podemos encontrar a cerejeira, a macieira ou a pereira, cujos frutos são magníficos e que podemos comer sem restrições. Mas os  mostajeiros parece preferirem a companhia do carvalho-negral, a carrasqueira, as giestas-negrais e os castanheiros e pinheiros-bravos. Umas e outras lançaram raízes fundas na nossa identidade. Mas porque será então que, de entre todas, continuemos a associar a mais improvável com o mais fundo da nossa identidade? 

sábado, 23 de agosto de 2014

ANTÓNIO NOBRE (1867-1900)


Ó grandes olhos outonais, cheios de Azul!
Como nascestes vós n´este país do Sul?
Quem vos pintou? Quem foi esse pintor estranho!
Que génio excepcional! Que talento tamanho!


Alguém me disse que viu todos os museus,
Mas o que, lá, não viu foi olhos como os teus...


Nunca vi nada, assim, em toda a Natureza.
O pincel que vos criou foi, com toda a certeza,
O mesmo que pintou os raros azulejos.


Vós sois um céu azul cheio de astros e beijos!

António Nobre, Olhar (Fragmento)
Amarilis, de Maio, no jardim.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

SCORPIURUS MURICATUS (CORNILHÃO, PRICKLY SCORPION,S -TAIL, CHENILLETTE POILUE, ERBA-LOMBRICA COMUNE, GRANILLO de OVEJA)


Se não tivermos em conta a flor, dificilmente relacionaremos esta planta com as do feijão-verde, ervilha ou fava, para mencionar apenas as cultivadas. E, no entanto, é certo que todas pertencem a uma mesma Família das fabáceas que inclui trepadeiras, arbustos, árvores, lianas e ervas. Mas, por volta de Março-Junho, as flores revelarão inequivocamente a pertença.


É uma planta anual que cresce rente ao solo, folhas com pecíolo longo, alternas, simples e inteiras, obovadas-lanceoladas.


As flores apresentam um pedúnculo longo e reúnem-se em inflorescências de 2 ou 3. Cálice em verde-claro com dentes terminando em bico. Corola em amarelo com pequenos traços verticais a vermelho no estandarte.   


Encontrei este exemplar em Maio na conhecida Várzea, no limite da aldeia e nas margens dos passeios formadas de entulho. Voltaremos a esta planta com imagens dos frutos.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

GLADIOLUS (GLADÍOLO, de Agosto)

 

Ao fim da tarde, o sol chega finalmente ao recanto mais sombra do que sol do jardim. Mas, apesar de estarmos em meados de Agosto,  já não agride porque há uma brisa que se irá acentuar com o pôr do sol e tornará bem frescas a noite e madrugada. Uma sorte para as plantas do canteiro que  esperaram por esta quadra para florir.


A maior parte dos gladíolos estão concentrados em maciços noutro espaço, na margem do relvado, espaldados pelo muro branco voltado a sul-poente.


Começam a florir por Abril-Maio, alguns até fins de Setembro, consoante a data da plantação e a espécie. Claro que nesta altura quase todos cumpriram o seu ciclo anual. A tempo!


Estes tons finos e agradáveis, o brilho acetinado de gladíolos plantados ao ar livre como os das fotos de hoje, mesmo que regados com frequência, não são compatíveis com uma exposição duradoura a sol pleno e temperaturas do ar superiores a 30º C. Por isso, nestes tempos de canícula, as flores deste gladíolo isolado são uma dádiva inesperada.

Fotos de 16 de Agosto de 2014, no jardim.

domingo, 17 de agosto de 2014

ECHIUM PLANTAGINEUM (CHUPA-MEL, PATERSON,S CURSE, VIPÉRINE FAUX-PLATAIN, BUGLOSA, VIPERINA PIANTAGINEA)


Fora do pico das cheias e enquanto o solo se mantiver fresco à superfície, a Várzea oferece-nos vários tipos de boragináceas. Dentro da família das echiums as mais comuns são as E. vulgare e a E. plantaginum embora aquela seja mais facilmente encontrada em sítios um pouco mais elevados e enxutos. 


Estas duas espécies podem ser facilmente confundidas. A diferença mais significativa está no porte de uma e outra: ambas erectas, porém a plantagineum mais ramificada e as folhas da base ovais enquanto a vulgare  tem claramente menos ramificações e as folhas basais são longas e estreitas.


Nas fotos podem ver-se em destaque 5 estames de tamanho desigual. Relevo também para a flor em botão. A corola é glabra no exterior com excepção dos bordos onde se podem encontrar alguns pêlos.


Não é nada fácil a adaptação das plantas selvagens aos ambientes dos jardins. É mais fácil visitá-las no seu ambiente natural. Mas, para quem quiser ter uma echium de belo efeito no jardim e seguramente domesticada, sugiro a E. fastuosum.  

Fotos de Maio.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

EUPHORBIA PEPLUS (ÉSULA REDONDA, PETTY SPURGE, EUPHORBE des JARDINS, LECHERINA, CALENZUOLA PICCOLA)


No início do ano, de entre as pequenas eufórbias, a ésula redonda é uma das mais certas presenças no quintal. Sendo espontânea, no entanto, também não incomoda. 


As flores são de tamanho diminuto mas de morfologia bastante invulgar. Não se mostram com pétalas, sépalas ou tépalas. Estão inseridas num invólucro de brácteas fundidas entre si em forma de taça. O invólucro contém uma flor feminina munida de ovário e rodeando-a, várias flores masculinas reduzidas a um estame. Saindo do invólucro podemos ver na foto, 4 pares de pequenas hastes brancas inseridas nas extremidades das glândulas  nectaríferas. Estas, por sua vez, estão ligadas às paredes do invólucro.


O caule ergue-se em verde-claro com tintas vermelho-acastanhadas e a partir da base partem diversas ramificações, não atingindo mais do que 30 cm de altura. Os pequenos caules contêm uma substância de aspecto leitoso cáustico que é irritante para a pele e muito agressiva para as mucosas. De resto toda a planta é tóxicaAs folhas são alternas na parte inferior do caule e opostas na superior. O limbo é de forma oval. Os frutos são cápsulas. 

Fotos de finais de Abril, no quintal.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

CHAMAESYCE (PROSTRATE SPURGE, EUPHORBIA PROSTRATA)


As pequenas flores brancas e levemente esverdeadas chamam a atenção. Mas, contra o que vai sendo habitual, reconheço facilmente a planta pelos caules e folhas pois estou habituado a vê-la entre o início do verão e início do outono no quintal e mesmo no jardim entre o relvado onde surjam pequenas clareiras. Já não associaria as flores com a planta.



Aqui, reconhecer não vale o mesmo que conhecer pelo nome. Bom pretexto para tentar ir mais longe com recurso às fontes habituais, escritas em papel ou na internet. 


É uma planta rasteira, de folhas de forma elíptica, opostas. Selvagem, produz grandes quantidades de sementes e pode mesmo alcançar três gerações numa estação, mas não tão abundante que requeira cuidados especiais de contenção. Suporta bem as secas mas, felizmente, os frios do inverno são o seu mais efectivo controlador. Pertence à Família das Euphorbiaceae.


Os caules irradiam de um nó central e os menos jovens ganham uma tonalidade vermelho-acastanhada que também está presente numa mancha longitudinal mais nítida nas folhas de alguns exemplares (C. maculata? - ver sobre o lado esquerdo das duas primeiras fotos). As sementes servem de alimento aos pássaros que assim também as disseminam.

As fotos são de 19 de Junho de 2014, no Quintal da Môca, no coração da aldeia.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

LAGERSTROEMIA INDICA (LAGERESTROÉMIA, CRAPE MYRTLE, LILAS des INDES, ÁRBOL de JÚPITER, LAGERSTROEMIA)


De floração estival tardia fui mais uma vez surpreendido pelo esplendor dos rácemos terminais da lagerestroémia em Agosto. Está visto que não teme o calor. 
Para ver as flores mais de perto puxei um ramo alto. Tão desastradamente o fiz que esgalhou. Consolemo-nos com ver alguns detalhes das flores. 


Seis magníficas pétalas livres em tons de rosa-purpúrea de margens ondeadas. Na foto, os estames. Os saquinhos ovados  em amarelo dourado, já muito abertos contendo o pólen, são as anteras.


Estames. Os pequenos tubos em amarelo claro que no topo se ligam às anteras são filetes. Também são filetes os tubos encurvados postos lateralmente e bastante mais longos que os primeiros, de cor avermelhada. 


A não confundir com a haste no plano superior esquerdo da foto (sem antera, pois claro), também recurvada, de cor avermelhada desde a base mas tornando-se verde-claro na parte mais elevada e finalmente escura e que são o estilete e o estigma. Aqui hão-de germinar os pequenos grãos de pólen que lançarão como que uma espécie de raízes ao longo do tubo do estilete até alcançar o ovário. 


Pousando sobre o ovário de cor esverdeada, a abelha iniciando o dia de hoje na recolha de substâncias açucaradas.

Fotos de ontem pelas 19 horas e de hoje entre as 8 e 8H30 (céu muito nublado), no jardim.

sábado, 9 de agosto de 2014

LITHODORA PROSTATA (ERVA-das-SETE SANGRIAS, GRÉMIL COUCHÉ, LITODORA)


De entre os matos da Cabreira, no limite poente da aldeia, a discreta flor da litodora sobressai pelo azul aveludado das pétalas com ténues riscas rosadas que convergem para o centro na direcção do tubo.


Com 5 pétalas e 5 sépalas soldadas formando um tubo e nele estão resguardados 5 estames. Na parte superior do tubo vê-se um tufo de pelos brancos. 


Folhas e caules mostram-se cobertos de pelos finos. As folhas são alternas.
Pertence à Família das boraginaceae.

Fotos dos finais de Maio de 2014.


quinta-feira, 7 de agosto de 2014

CARDUUS (CARDO)


Ao percorrer  um vale tão fresco e húmido em plena Serra da Lousã, não estava à espera de ver plantas espinhosas como cardos, habituado como estou a encontrá-las em ambientes secos.


De cabeça pequena e bem munido de espinhos, os delicados capítulos florais são bem menos densos do que nos cardos mais comuns.


Aqui em processo de maturação, uma nota de outono sob um fundo verde-brilhante. 


Será um exemplar de c. baeocephalus? 

Fotos de Junho de 2014.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

CAMPSIS RADICANS (TROMBETA-da-CHINA, TRUMPET CREEPER, BIGNONE)


Às vistosas trombetas em vermelho-alaranjado, seus caules enleiados entre si e apoiados em discretos suportes pregados na parede, sua folhagem quieta suspensa das horas quentes do alto estio ou acenando levemente com a aragem fresca dos fins de tarde que precedem as vindimas, associo a distinção serena dos antigos donos da Quinta que as trouxeram para junto das mais comuns ipomeias. Associação arbitrária, já se vê!


Sucedeu que na aldeia situada em zona de pedra calcária e de inúmeras cerâmicas do barro vermelho, uma muito pragmática entidade pública amante da modernidade, demoliu a emblemática Casa e em seu lugar edificou em estilo cubo + vidro + alumínio + painéis de fachada. Nada tenho contra o estilo que só ganharia se conjugado com as centenárias e muito vernáculas construções. 


Ao revisitar a Campsis ou o que dela resta, pareceu-me mutilada ela própria pela inconsequente demolição. Expressão de bom gosto, fora eleita num tempo em que era rara fora dos jardins botânicos. De algum modo, uma vez plantada, parecia partilhar da serenidade e simplicidade da casa. Certo é que as condições de vida proporcionadas pelo resguardo da parede da escada encostada à fachada nascente e do muro de vedação a norte com sol quanto baste, solo arenoso e humidade, permaneceram idênticas por largas décadas.  Agora muito mais exposta, a campsis irá continuar a adaptar-se ou entrará em perda irreversível de energia.


No entanto, continua linda: há flores novas e outras estão prometidas. Vejam-se os cálices arredondados com 5 lóbulos onde se inserem as corolas de forma campanulada compostas de 5 pétalas fundidas em tubo que termina superiormente com os conhecidos lábios voltados para fora de modo a patentearem as estruturas reprodutivas. Estas flores são riquíssimas em néctar e parecem adaptadas aos bicos fundos dos beija-flores ou colibris. Estames, anteras e estiletes e estigmas estão colocados de modo que a cabeça do pássaro as roce cobrindo-se de pólen que transportará de flor em flor. Não há beija-flores por aqui. Mas há muitos outros apreciadores de néctar, nomeadamente formigas e abelhas, que têm de encontrar outros expedientes para a recolha da substância adocicada, aparentemente sem vantagem para a polinização. Nada é perfeito. Ainda assim a campsis não desiste.

Fotos de Junho de 2014, na aldeia.