sexta-feira, 29 de março de 2013

IRENE NO CÉU


Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.


Imagino Irene entrando no céu:
- Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
- Entra Irene. Você não precisa pedir licença.

Manuel Bandeira, Irene no Céu, Obras Poéticas, Libertinagem. Fotos de março de 2013, Coimbra.

quarta-feira, 27 de março de 2013

CERINTHE MAJOR (FLOR-MEL)

 
Protegidos pelas matas de pinhais e eucaliptais que se erguem na colina a sudoeste, estendem-se os vinhedos. Encostas voltadas a nascente em suave declive, aqui e além aplanadas pela natural erosão e pelos trabalhos de surriba de gerações, balizam o largo vale fronteiro ás serranias do Caramulo e Buçaco que desce para a bacia do Vouga. Estamos nos limites  poente dos campos da aldeia onde subimos, aproveitando um inesperado intervalo de chuvas, em passeio de tarde de domingo.  Aqui o solo é argilo-calcário, com elevada capacidade de retenção de água. Os caminhos enlameados obrigam a uma gincana nem sempre bem sucedida.


Á entrada da primavera, os campos vestem-se de herbáceas floridas que os lavradores oportunamente farão remover mobilizando os solos ou espalhando os temíveis herbicidas. De momento estão de tal modo encharcados  que nem as máquinas lá conseguem entrar. Mas com ou sem remoção das infestantes sempre hão-de sobrar sementes que garantem que para os anos próximos lá estarão de novo.


Não são obrigatoriamente as mesmas. Desta vez, surpreendido, onde antes encontrava a borragem deparo-me agora com a flor-mel. A flor-mel não se apresenta com a altura e porte da borragem e não é ramificada como esta. Ao contrário, as suas folhas e flores são discretas e algo tristes. Certo é que ambas são borraginaceae. Como tal, muito procuradas pelos seus néctares e pólens.

A folha é carnuda, verde-clara ou cinzenta-esverdeada, com reflexos brancos. Na base são espatuladas, ovobadas e de pecíolo curto. As de cima, desprovidas de pecíolo, abraçam o caule. Envolvendo as flores há estruturas foliares que as protegem. Têm cor, forma e textura semelhante ás pétalas mas são, apenas, folhas modificadas, chamadas brácteas. 


À medida que a planta cresce, as brácteas vão alterando a cor de verde para púrpura e depois para azul brilhante. Nas fotos ainda se mostram em verde.
 
A flor é perfumada e muito procurada pelas abelhas melíferas.  As flores voltadas para o solo, surgem em tons de azul-púrpura a violeta. São longas, de corola tubulosa  com cinco pétalas soldadas, cinco estames de cor amarela e anteras negras. A disposição dos estames limita o acesso aos insectos polinizadores que ao forçarem a entrada até ao néctar, são obrigadas a roçar o corpo pelo interior das corolas, assim se carregando de pólen.
 
A planta pode ser cultivada em vasos. Espero colher algumas sementes para o jardim. Tons de azul nunca são demais!
 
Uma vez instalada toma a seu cargo a sementeira. Resiste bem á seca mas, no tempo quente, espera que a brindem com água.
 
Fotos de domingo passado, nos vinhedos em torno da aldeia.


segunda-feira, 25 de março de 2013

EM DIA DE RAMOS




Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.




Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.




Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.


A terra abriu-se para erguer a cruz: sacralização da natureza, sacralização do homem. Entrelaçam-se flores, compõem-se os ramos, atapetam-se os caminhos com verduras. Em procissão aclamamos a Jesus como o Messias da promessa aos nossos avós da Aliança. A natureza transfigurada, entra no templo. Em concha, o povo reza emprestando as suas vozes à oração única. Escuta-se o longo Memorial da Paixão. O sacerdote comenta o texto sagrado. Consagração e comunhão. Em paz nos erguemos e somos abençoados. Até Deus. Regressamos: homens, verduras e flores, enlaçados. Estas, como ferramentas se guardam. Do profano ao sagrado, finito a infinito, nunca repousados, haveremos de continuar na esperança até quando Deus quiser.
 
Os versos são de Camões. Alguns ramos de palmitos e gerberas vermelhas de ontem, preparados para distribuir pelo povo a juntar ao alecrim e oliveira. Nas demais fotos, flores simples e a envolvente da aldeia.
 

sábado, 23 de março de 2013

BORAGO OFFICINALIS (BORRAGEM)


Desde muito cedo conheci a borragem. No quintal contíguo ao recreio interior da escola, o nosso professor muito empenhado na apicultura, cultivava a planta  a pequena distância de colmeias e cortiços. Conflitos de vizinhança, uns acidentais, provocados muitos outros, envolviam não raro crianças e abelhas, com os resultados que se adivinham. 
 

Não conheço flor mais visitada por abelhas. No entanto, não é perfumada. Esta herbácea está agora em flor e assim continuará pelo menos até perto do verão. 

Na várzea próxima onde as fotografei, é uma planta relativamente comum e não cultivada, onde alcança 75 cm de altura.
 

A corola é estrelada. Geralmente posiciona-se voltada para baixo. A flor é azul brilhante, mistura de índigo, com miríades de pontinhos brancos. Ao centro, uma forma colunar em branco de onde sobressaem os cinco estames com anteras em cone de cor púrpura muito escura ou preta. As pétalas em número de cinco são fundidas na base. Os pedúnculos das flores estão alternadamente inseridos no eixo principal.
 
As sépalas também em número de cinco são livres, estreitas e de cor avermelhada que contrasta singularmente com o azul das pétalas. Ver na foto acima.


A borragem está ornada de pequenas agulhas (1 a 3 mm) que evocam os ferrões de certas polinizadoras aladas que as visitam incessantemente.
 
Fotos de 21 de março de 2013, na várzea.

quinta-feira, 21 de março de 2013

ALLIUM SHOENOPRESUM (CEBOLINHO), em flor


No ano passado experimentei semear cebolinho usando sementes que trouxe de França. A sementeira resultou bem. Transplantado, o cebolinho cresceu rapidamente em muitos pés e sempre com aspecto saudável. Foi então que começámos a usar as folhas tubulares nas saladas, com ovos ou batatas, nas sopas, nos molhos ou a acompanhar o queijo fresco. Sim, é muito bom. O sabor é semelhante ao alho e á cebola mas muito mais sofisticado. O cultivo no quintal ao ar livre não deu nenhum trabalho especial. Mas poder-se-á também cultivar o cebolinho em vasos (diâmetro não inferior a 20 cm).


Até que as folhas começaram a ficar duras e a perder sabor... Não quis arrancar os pés para ver a evolução da planta. No inverno as folhas foram desaparecendo até restarem os bolbos.


Quando o tempo começou a amornar, surgiram novas folhas que ajudei a libertar das velhas folhas secas. Cresceu, já dão folhas comestíveis e não obstante as visitas inoportunas dos coelhos, ainda assim vão surgindo botões e agora as flores.
 

A inflorescência é do tipo umbela. Flores perfeitas de três pétalas na cor lilás. Cada cabeça tem entre 30 e 50 pequenas flores.

 
E não é que são muito decorativas? As cabeças podem ser cortadas e com elas compor belíssimos arranjos de flores. A experimentar.
 
 
Fotos de março de 2013, no jardim.

terça-feira, 19 de março de 2013

FUMARIA OFFICINALIS (ERVA-MOLEIRINHA)




Actualmente a fumária está competindo para alargar a sua colónia a todo o quintal. Curiosamente no campo confinante, inculto há anos, não vejo uma única fumária. Fora isso, há fumárias por tudo quanto é sítio.


As folhas são muito recortadas e tal como os caules  muito tenros e frágeis. Erguem-se de 20 a 50 cm de altura. Consigo rapá-los facilmente com um ancinho. Quando o faço, é incrível o amontoado vegetal que se recolhe desde a mais pequena área! 


Vistas de perto as flores apresentam uma morfologia externa muito curiosa. Agrupam-se em inflorescências terminais  em densos racemas de 20 a 30 pequenas flores. A corola é tubulosa. Nesta, a bolsa em forma de corcova, parte mais  larga onde o polinizador pode entrar, denomina-se giba. Assim a corola da fumária pode qualificar-se como gibosa. A flor é de quatro pétalas das quais as duas mais internas são soldadas e as externas, a superior acaba munida de um esporão e a inferior é simples.
 
 
Na foto acima uma fumária diferente que também pode ser encontrada no quintal mas muito menos abundante.
 
Fotos de março de 2013, no quintal.

domingo, 17 de março de 2013

LAMIUM AMPLEXICAULE (LÂMIO)

 
Os lâmios (família lamiaceae) voltaram em força ao quintal. É mais uma planta herbácea anual, não semeada, de crescimento rápido atingindo os 10 a 30 cm de comprimento e que aqui se instalou  definitivamente vinda sei lá de onde. Dá nas vistas desde que surgem os pequenos botões em vermelho púrpura, mais nítidos na foto seguinte, que hão-de resolver-se em flores da mesma cor mais evidentes pelo tamanho e pela complexidade da sua organização externa.



O cálice tubular-campanulado e longo, mais parece o pescoço de uma girafa!


O lábio superior apresenta-se como uma espécie de capacete, pubescente no exterior, uma lanugem densa quase invisível a olho nu que lhe dá uma nota mais carregada de cor púrpura. 
O lábio inferior é mais comprido e manifesto que o superior, nas cores branca, rosada ou púrpura rosada, de manchas em tom mais escuro e com lóbulos laterais arredondados.   


Aqui podem ver-se, bem erguidas, as anteras cobertas de pólen em tom alaranjado. A planta é melífera e as flores abrindo tão cedo no ano, dão um contributo muito válido para o sustento dos insectos numa época em que as flores não abundam.
 
Fotos de março de 2013, no quintal.

sexta-feira, 15 de março de 2013

LUPINUS AUGUSTIFOLIUS TREMOÇO-DE-FOLHAS-ESTREITAS, TREMOÇEIRO-AZUL)


O quintal foi semeado com tremocilha (lupinus luteus) em cultura extensa e também com tremoço (lupinus albus) num pequeno canteiro.


Mas, desde há anos, numa ínfima superfície do quintal, nascem espontâneamente três ou quatro pés de um outro lupino de folhas manifestamente mais estreitas do que as dos aludidos primos e de flor azul.
 

O tremoceiro-de-folhas-estreitas é muito bonito ainda antes da floração (aliás, flores sem valor ornamental, pela forma estilizada das folhas. Á partida, essa dimensão das folhas não nos remete logo, a nós leigos,  para a família das fabáceas. Mas a observação das flores afasta quaisquer dúvidas. 
 

Aqui a foto da inflorescência mais vistosa do lupinus luteus, com a inconfundível cor amarela. 
 
Fotos de ontem, no quintal.

quarta-feira, 13 de março de 2013

FREESIA X hybrida (FRÉSIA)


A frésia é aqui tipicamente uma planta de floração primaveril mas há outras que florescem no final do verão, princípios do outono. Os seus bolbilhos, modalidade de  cormos de pequenas dimensões, órgãos subterrâneos de reserva e de reprodução, funcionalmente semelhantes a rizomas, asseguram a sobrevivência da planta durante os meses de verão e de inverno. Nesses períodos repousam. Quando as condições voltam a ser-lhe favoráveis são ainda esses órgãos que a sustentam.


A flor da frésia apresenta um perfume delicado. No entanto não é fácil encontrar no mercado de perfumes uma essência ou sequer uma nota de frésia, talvez por não ser de fácil extracção.  Com as chuvas dos últimos dias aquele odor adocicado anda um  tanto arredado. 



As inflorescências são de tipo cimoso e as flores dispõem-se em espigas unilaterais de belo efeito. As corolas são campanuladas de cor branca, amarela, rosa, azul ou violeta.


As nossas frésias crescem entre 20 a 40 cm de altura. As folhas são basais, alongadas, verdes, semelhantes às das ervas. Agrupam-se em vistosas colónias e no tempo seco são muito procuradas por insectos.
 
Porque são uma mancha de frescura e de beleza e não exigem qualquer especial cuidado, as recomendo vivamente. 

Fotos de março de 2013, no jardim.

segunda-feira, 11 de março de 2013

ESCHSCHOLZIA CALIFORNICA (PAPOILA-DA-CALIFÓRNIA)

 
As temperaturas do ar têm continuado muito amenas para a época. Já as chuvas voltaram ao modo de fevereiradas. E assim, normalmente e nesta altura do ano, muitas plantas estariam em vias de recuperar dos efeitos das geadas ou apresentariam já o aspecto irremediável da finitude.
 
 
Papoilas-da-Califórnia com a folhagem e caules inteiros e saudáveis e floridas nesta altura do ano? Nem pensar: o tempo normal da floração não será entre maio e outubro?
 
 
Atenção: por ora, são apenas algumas. Ainda assim, nestes primeiros dias de março, um espanto!
 

Como se vê, apresentam algumas manchas e pontuados escuros, consequência do impacto directo das chuvas e do granizo e da terra dividida e logo projectada pelo vento forte. A cor das quatro pétalas, normalmente mais escura ao centro e mais clara na periferia, mostra-se algo desmaiada em toda a extensão. Faltam-lhes aqueles tons brilhantes e sedosos do laranja, amarelo ou do branco-creme que só a luz e o calor dos dias mais longos hão-de trazer. Em contrapartida, talvez seja maior o relevo dos numerosos estames, de filetes curtos e anteras longas. Ao centro na foto, o estigma elevando-se acima dos estames.

Voltaremos a estas papoilas.

Fotos de março de 2013, no jardim.

sábado, 9 de março de 2013

BELLIS PERENNIS (BONINA, MARGARIDA)


A pequena bonina instalou-se definitivamente no tabuleiro das suculentas que, contra o que é habitual o preferiu ao gramado. Ali não lhe sobra espaço para aumentar a colónia. Em todo o caso o lugar é perfeito. Voltado a nascente recebe os primeiros raios de sol da manhã e está protegida pela parede que a abriga dos ventos das bandas do poente.

De entre as várias asteraceae (compositae) do jardim é a mais persistente na produção de flores, não se circunscrevendo ao verão, a época maior.

A bonina acompanha o movimento do sol. Ao fim do dia corre persianas e dormita.


O disco amarelo ao centro, comum ás compostas, é rodeado por um halo aparente que são, apenas, o sombreado de fundo por intervalos na inserção das pétalas. 

O branco vem raiado de cor de rosa, mais acentuado no círculo da periferia. 
 

As inflorescências, no modo de capítulos, agrupam pequeníssimas flores amarelas tubulares de cinco estames  rodeadas por lígulas brancas, rosadas ou vermelhas, numa cabeça floral que impropriamente chamamos de uma flor. São flores hermafroditas (simultâneamente com órgãos masculinos e femininos) que atraem abelhas e moscas, mas também são auto-polinizáveis.


A flor surge solitária em caules curtos, sem folhas, de secção circular, pubescentes, com cerca de 2 a 10 cm de altura.


Na foto, as folhas basais em forma de colher de dois a cinco centímetros de comprimento.

No plano inferior, ao centro, pode ver-se o botão de nova flor.

A bonina consegue sobreviver a tempos mais duros (e aos cortes dos relvados) graças aos seus rizomas curtos.

 A multiplicação faz-se por sementes que produz a mais de mil por planta e que podem permanecer viáveis no solo durante anos!

Fotos muito ampliadas de fevereiro de 2013, no jardim.

quinta-feira, 7 de março de 2013

GERANIUM MOLLE (BICO-DE-POMBA-MENOR)


Os gerânios selvagens aproveitam a disponibilidade de azoto no quintal para se lançarem em forte competição por um pedaço de solo livre. No fundo até lhe convirá a vizinhança apertada de outras herbáceas na medida em que contribuem para formar aquela sombra húmida que tanto apreciam. Nos solos argilo-calcários da várzea próxima são omnipresentes. Mas não desdenham qualquer outro tipo de solo...  
 

O geranium veste-se de abundantes pelos que cobrem não só as sépalas como se distribuem  ao longo das hastes finas que sustentam, cada uma, duas flores com os respectivos pedúnculos. 


Embora pequena (corola com 8 a 12 mm de diâmetro) e discreta, a flor de cinco pétalas em rosa-púrpura, que de longe parecem dez pelo recorte em cada uma delas, faz-se notar por entre a mancha verde que recobre a terra. Cada pétala mede apenas 3 a 5 mm de comprimento.
Bem visíveis os dez estames com as respectivas anteras a azul escuro na foto. Ao centro o estigma bem aberto.

 
As folhas têm a forma de rins, sendo que as superiores são bem mais largas do que as flores e apresentam 5 a 7 lóbulos de fundo recorte, por sua vez divididos em novos segmentos. Ao nível inferior formam uma roseta basal.

Fotos de 27 de fevereiro de 2013, no quintal.

terça-feira, 5 de março de 2013

ALLIUM TRIQUETRUM (ALHO BRAVO)



Não fazemos o cultivo deliberado do alho bravo mas, todos os anos no final do inverno princípios da primavera os vemos, com satisfação, ressurgindo no jardim a partir dos bolbos subterrâneos. É uma pequena herbácea vivaz, decorativa, que transpira beleza e frescura e surge numa altura em que estamos na expectativa da cor. Mas ainda antes da floração, já as folhas em forma de tiras longas e pendentes e os caules de secção triangular oferecem um tom de verde muito próprio. Quando esfregadas exalam um desagradável odor a alho.
 
 
Inicialmente os botões apresentam-se envolvidos por duas brácteas de tom esbranquiçado que os protegem. Ao abrir revelam quinze belas flores tubulares.
 

As inflorescências são do tipo umbela e partem do cimo dos caules. Os longos pedicelos são frágeis, não suportam o peso da flor e curvam-se para baixo.


A corola de cor branca é campanulada. As "pétalas", aliás, tépalas, em número de seis, unidas na base, são brancas e cada uma com um risco verde ao meio que lhe dão muita graça. Os estames são seis de cor amarela.


Pequenos bolbos em forma oval, esbranquiçados,  que quando a terra é remexida se espalham e dão lugar a novas plantas.
 
Fotos de fevereiro de 2013, no jardim.